sexta-feira, 28 de maio de 2010

Tradicionais palestras anti-drogas não funcionam

Por Marina Dias REVISTAS ABRIL
As já tradicionais palestras sobre os danos das drogas à vida dos jovens são repletas de boas intenções, mas não funcionam. A afirmação é do psiquiatra Thiago Marques Fidalgo, membro do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em lugar delas, o especialista pede que escolas e professores fiquem abertos ao diálogo com os estudantes. "O fundamental é ter pessoas com vínculos afetivos ao lado do jovem para discutir, tirar dúvidas e conversar sobre o assunto", diz. "O professor sempre presente e aberto para o diálogo é muito mais efetivo do que o especialista e suas palestras." Confira a seguir os principais trechos da entrevista com o médico.
Existe um perfil do jovem que usa ou compra droga na escola?
Não podemos traçar um perfil específico desse tipo de jovem, mas sabemos que os chamados fatores de proteção envolvem qualidade de vida e saúde dos adolescentes. Isso significa dizer que praticar esportes, participar de um grupo religioso, ter um ambiente familiar estruturado, no qual há o apoio dos pais, e formar uma rede social bacana é fundamental para manter os jovens longe do uso abusivo de drogas. Na escola, ter educadores com quem os estudantes possam conversar abertamente também é muito importante para o fortalecimento dos fatores de proteção. Os jovens fora desse contexto, obviamente, estão mais inclinados ao uso de drogas.
É fato que a iniciação dos adolescentes no mundo das drogas se dá na escola?
Isso varia de acordo com a realidade de cada jovem. Em geral, o primeiro uso tende a se dar com os amigos e, nessa época, os amigos estão na escola. Por esse motivo, a escola tem papel central na prevenção do uso de drogas.
Quais são as facilidades para o uso no ambiente escolar?
É bom deixar claro que nem todo uso de drogas leva à dependência. Na maioria dos casos, os jovens querem o que é proibido, para testar seus limites, conhecer o corpo e suas reações e, mais do que isso, fazer parte de um grupo social. Como os jovens passam a maior parte do tempo na escola, seus amigos também são desse ambiente, e é com eles que vai se dar a primeira experiência com as drogas, na maioria dos casos. São os fatores de risco ou genéticos, porém, que determinam se o uso de drogas pode passar do estágio experimental para o problemático e dependente.
O que seria, então, o uso não problemático?
O uso de drogas pode se dividir em quatro padrões: experimental, quando se tem o primeiro contato com a substância química; ocasional, quando se faz uso da substância periodicamente; nocivo: quando a pessoa se expõe a situações de risco em consequência ao uso de droga; e dependente, quando a droga toma posição central na vida do usuário. A genética é um fator que conta muito na hora de avaliar a passagem do jovem pelos quatro padrões do uso de drogas, pois o metabolismo está intimamente ligado a como o organismo processa a droga. Obviamente, existem as substâncias com mais chances de dependência: a cocaína, o crack e a heroína, por exemplo. Mas ainda não é possível identificar qual adolescente vai perder o controle e chegar à dependência.
Quais são os métodos eficientes de prevenção do uso e venda de drogas nas escolas?
Conscientizar os estudantes sem necessariamente falar diretamente sobre drogas é uma das principais chaves para a prevenção. Além disso, incentivar a vida saudável, os cuidados com o corpo, a boa alimentação e a saúde bucal desde cedo contribuem para que a criança se torne um adolescente com consciência corporal e faz da escola um elemento confiável da rede social que está se criando em volta dela. As palestras com especialistas não funcionam, pois fornecer informação sobre os métodos de prevenção e riscos do uso abusivo das drogas não é mais o suficiente. O fundamental é ter pessoas com vínculos afetivos ao lado do jovem para discutir, tirar duvidas e conversar sobre o assunto. Na escola, o professor sempre presente e aberto para o diálogo é muito mais efetivo do que o especialista e suas palestras.
Como perceber que seu filho está envolvido com drogas enquanto está na escola?
Cada droga tem um efeito e isso pode ser diferente em cada organismo. Mas fique alerta para a mudança de comportamento e o desinteresse pela escola.
Como abordar o adolescente ao descobrir que ele está usando drogas?
O mais importante é a construção do diálogo em casa. Se a família oferece uma relação afetiva com o jovem, esse assunto vai surgir naturalmente. Caso haja suspeita do uso de drogas, vale conversar, questionar e fazer com que o jovem fale de seus problemas. Caso isso não aconteça, a mediação de um profissional - psiquiatra ou psicólogo - é fundamental. O segundo passo é procurar tratamento clínico, porque ninguém sai das drogas com força de vontade ou sozinho. Para isso, é necessário um trabalho em conjunto com o paciente, sua família e os profissionais envolvidos. Com o uso abusivo das drogas, o jovem perde sua rede social de confiança e o trabalho da recuperação é fazer com que ele a reconstrua de maneira saudável.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Criança leva pedras de crack para creche em São Paulo

Uma menina de 4 anos levou ontem para a creche em Piracicaba, no interior de São Paulo, pouco mais de 80 pedras de crack. Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública, a menina tirou 83 pedras de crack da mochila para mostrar para as coleguinhas de uma creche municipal, dizendo que era "farinha" da sua mãe. A professora recolheu as pedras, que foi levada para a delegacia. Segundo a polícia, as pedras totalizavam 24,1 gramas.
A mãe da menina, uma faxineira de 22 anos, foi localizada e conduzida até a sede da Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) e foi autuada em flagrante por tráfico de entorpecentes. Enquanto o flagrante era elaborado, um telefonema da escola informava que dois homens chegaram num carro e começaram a coagir professores e funcionários com gritos e ameaças.
Os guardas civis voltaram à escola e abordaram o carro, que estava estacionado nas imediações, com dois ocupantes. Os dois suspeitos saíram correndo do carro, mas um pedreiro de 48 anos acabou detido e autuado em flagrante por coação no curso do processo (por ter gritado e ameaçado as testemunhas).
A criança foi entregue ao Conselho Tutelar do município. O pedreiro foi levado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Piracicaba e a faxineira está numa carceragem pública, à disposição da Justiça.
Por Solange Spigliatti, Agencia Estado, Atualizado: 4/5/2010 14:02