terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Os 11 mandamentos do estudante de química

01 - O Estudante de Química sabe sempre a matéria; se não responde é para não inferiorizar o professor.
02 - O Estudante de Química nunca estraga o material escolar; testa sua resistência.
03 - O Estudante de Química nunca se deixa dormir; o despertador é que não toca.
04 - O Estudante de Química nunca é posto fora da aula; é que sua presença é necessária noutro local.
05 - O Estudante de Química nunca diz mal de um professor; faz uma critica construtiva salientando os seus defeitos.
06 - O Estudante de Química nunca copia; recolhe dados.
07 - O Estudante de Química nunca reprova; renova sua experiência.
08 - O Estudante de Química nunca conspira contra os professores; estes é que tem espírito de conspiração.
09 - O Estudante de Química nunca bebe; degusta.
10 - O Estudante de Química nunca fuma; estuda os efeitos nocivos do tabaco.
11 - O Estudante de Química nunca falta; não comparece por motivos de força maior.
                                        Adiciono o 12º mandamento...
12º - O estudante de Química não fica 'chapado'; analisa o teor alcóolico das bebidas e os seus efeitos no organismo. (Rosy)



Retirado do site: http://oalquimistasarrista.blogspot.com/

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

EU ACUSO

J’ACUSE !!!
(Eu acuso !)
(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)

« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. (Émile Zola)
Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola)


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de  convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.


Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e  do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os  “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.


Igor Pantuzza Wildmann

Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A montanha pariu um rato

A montanha pariu um rato
Luiz Araújo

Nesta manhã cinzenta de Brasília, no Palácio do Planalto, o presidente Lula, ladeado do atual Ministro da Educação Fernando Haddad, apresentou a proposta de Plano Nacional de Educação para os próximos dez anos.
Havia forte expectativa em relação ao teor do texto, que se justificavam por se tratar de um plano elaborado por um governo considerado de esquerda (mesmo que isso conceitualmente e programaticamente não seja consensual!), forçando comparação imediata com o conteúdo do projeto apresentado pelo seu antecessor (FHC). Também havia forte esperança de que o texto "bebesse na fonte" das deliberações da Conferência Nacional de Educação, evento que mobilizou grande parcela dos educadores e foi finalizado com a etapa nacional em abril passado.
As expectativas estavam vinculadas também a necessidade de superação dos enormes desafios educacionais, especialmente depois da fraca execução do plano anterior.
Infelizmente a primeira impressão (fruto de uma primeira leitura do texto composto de vinte metas, 170 estratégias e 12 artigos iniciais) não é positiva, por isso o provocativo título desta postagem.
Pretendo realizar um exaustivo trabalho de análise do texto, mas adianto algumas observações iniciais:
1ª. Ao contrário do PNE anterior, este não veio acompanhado de um diagnóstico da situação educacional até 2010. Pelo que eu sei este trabalho foi encomendado a especialistas e realizado. Deveria seguir com anexo, pois é com base no diagnóstico que podemos verificar se uma meta é factível, aceitável ou se porventura apresenta um formato tímido.
2ª. Houve polêmica sobre o tamanho que deveria ter o novo PNE, ficando claro que o governo optou por um PNE mais conciso. Não tenho nada contra em princípio ao formato apresentado. O problema que detectei é outro. O texto do novo PNE não possui, como regra, metas intermediárias, sendo contraditório com a proposta colocada no seu artigo 6º, que estabelece a realização de duas conferências nacionais para avaliar a execução do plano. Como avaliar se o desempenho é positivo se não está dito o quanto deveria ter sido alcançado nos quatro ou cinco primeiros anos? A exceção é a meta 9, que trata da erradicação do combate ao analfabetismo.
3ª. Fala-se muito no texto em regime de colaboração, mas pouco se efetiva as responsabilidades de cada ente federado. Em alguns momentos fico com a impressão de que o texto é um plano federal de educação, pois a verbo sempre é "induzir", "fomentar", "propor", como se o plano estivesse direcionado a ajudar os estados e municípios a cumprir suas obrigações. Este certamente foi um problema do plano anterior e parece se repetir neste. O único momento em que a questão é formatada é na meta 17, que institui um fórum com entes federados e trabalhadores para acompanhar salário dos docentes.
4ª. A parte que deveria ser a mais forte, inexplicavelmente é a mais fraca. O Plano anterior sofreu com os vetos do FHC a sua parte financeira. Este está melhor, induzido pela Emenda 59, que obriga escrever o percentual de aplicação dos recursos educacionais em relação ao PIB, e pelas deliberações da CONAE, o projeto apresenta a projeção de aumento progressivo do gasto público em educação para alcançar 7% do PIB em 2020. Isso é positivo, mas pouco, senão vejamos:
4.1. Em 2001 o parlamento propôs que este fosse o gasto em 2010, ou seja, estamos prorrogando por mais dez anos a mesma meta não alcançada.
4.2. Na época a sociedade civil reivindicava 10% e na CONAE foi aprovado este percentual maior. O governo federal desconsiderou tal proposta.
4.3. No seu artigo 5º há uma brecha (uma avenida!) para o seu descumprimento. Lá está dito que esta meta deve ser avaliada após quatro anos de vigência. Os otimistas dirão que esta revisão será para aumentar. Será? Não é dito quem irá avaliar, podendo representar uma autorização legislativa para que o governo federal altere o principal aspecto do plano sem consulta, por exemplo.
4.4. E o mais grave, o documento não diz quem vai pagar a conta. Ou seja, precisamos saltar (mesmo que um pequeno salto em relação às necessidades educacionais!) de 5% em 2009 para 7% em 2020. Para isso é necessário mais recursos, obviamente. De onde sairão os recursos? Quem contribuirá e com quanto?
5ª. O texto governamental conseguiu a proeza de praticamente "sumir" com uma das principais inovações da CONAE, que foi o estabelecimento do Custo Aluno-qualidade como referência para o financiamento. A palavra só aparece na estratégia 20.5, adiando sua efetivação para o final da segunda década deste novo século. E, sem citar o nome, na estratégia 7.19.
Durante toda a semana comentarei neste espaço cada meta e suas respectivas estratégias.
Meu sentimento inicial é de frustração com o texto. Não que ele não seja melhor em muitos aspectos ao anterior. Mas ele está muito aquém do acúmulo conseguido na CONAE.
Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Fonte: Blog do Luiz Araújo

PNE 2011 x 2020

Confira as 20 metas que compõem o Plano Nacional de Educação 2011-2020
Amanda Cieglinski
Brasília, 15/12/2010 (Agência Brasil) - O projeto de lei que institui o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que deverá vigorar nos próximos dez anos, foi entregue hoje (14) pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento estabelece 20 metas a serem alcançadas pelo país até 2020. O texto também detalha as estratégias necessárias para alcançar os objetivos delimitados.
Conheça as metas que compõem o Plano Nacional de Educação 2011-2020:
Meta 1: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos.
Meta 2: Criar mecanismos para o acompanhamento individual de cada estudante do ensino fundamental.
Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa etária.
Meta 4: Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.
Meta 5: Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os 8 anos de idade.
Meta 6: Oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica.
Meta 7: Atingir as médias nacionais para o Ideb já previstas no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)
Meta 8: Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos de modo a alcançar mínimo de 12 anos de estudo para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.
Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.
Meta 10: Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
Meta 11: Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta.
Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta.
Meta 13: Elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores. Sete estratégias.
Meta 14: Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores. Nove estratégias.
Meta 15: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
Meta 16: Formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua área de atuação.
Meta 17: Valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente.
Meta 18: Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de ensino.
Meta 19: Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar.
Meta 20: Ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Amanda Cieglinski é repórter da Agência Brasil

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um desastre para o ensino

Pesquisa mostra que os bons alunos não querem
mais seguir o magistério – um desastre para o ensino.

Um bom termômetro para aferir o prestígio de uma profissão é o número de jovens que a assinalam como primeira opção na hora do vestibular. Por esse medidor, a carreira de professor, que décadas atrás foi um símbolo de status, nunca esteve tão em baixa. Uma nova pesquisa, conduzida pela Fundação Carlos Chagas a pedido da Fundação Victor Civita, chama atenção para o problema, trazendo à luz um dado preocupante: às vésperas de ingressarem na universidade, apenas 2% dos estudantes brasileiros pretendem seguir o magistério – opção que os outros 98% já descartaram. No levantamento, baseado numa amostra de 1 500 alunos de ensino médio em escolas públicas e particulares de todo o país, o curso de pedagogia patina na 36ª colocação, entre as sessenta carreiras que hoje mais exercem fascínio sobre os jovens – lista encabeçada pelas áreas de direito, engenharia e medicina. Agrava o cenário saber que esses poucos que ainda optam pela docência se concentram justamente no grupo dos 30% de alunos com as piores notas na escola. Pouco disputado, o curso de pedagogia significa, para a imensa maioria dos estudantes, a única porta de entrada possível para o ensino superior – e não uma carreira de que realmente gostam. Conclui a especialista Bernardete Gatti, coordenadora da pesquisa: “Sem atrair as melhores cabeças para as faculdades de pedagogia, o Brasil jamais conseguirá deixar as últimas colocações nos rankings de ensino”.
“Meu pai não quer”
Alunos de ensino médio: eles são desencorajados em casa de optar pelo curso de pedagogia
A situação de desprestígio da carreira de professor é o retrato final de um processo deflagrado na década de 70, quando se iniciou no país uma acelerada massificação do ensino público. Sem profissionais em número suficiente para suprir a galopante demanda, as escolas passaram a recrutar até leigos para dar aulas. Foi aí também que as faculdades de pedagogia e as licenciaturas proliferaram à revelia da qualidade acadêmica, e os salários começaram a cair. A remuneração dos professores é, por sinal, o segundo fator elencado pelos jovens de hoje para nem sequer cogitarem o magistério, atrás de um item que se refere à completa falta de identificação com o ofício, segundo mostra a pesquisa da Fundação Carlos Chagas. Os estudantes contam ainda que são desencorajados pelos próprios pais de fazer essa opção. Boa parte dos entrevistados chega a afirmar que a família “jamais aceitaria tal escolha profissional”. Países onde o ensino prima pela excelência, como Coreia do Sul e Finlândia, encontraram bons caminhos para atrair os alunos mais brilhantes às faculdades de pedagogia – experiência que pode ser útil também ao Brasil. Ela indica que elevar o salário dos professores é apenas uma das estratégias eficazes, mas não a de maior impacto. O que realmente suscita o fascínio dos melhores alunos pela docência diz respeito, acima de tudo, à possibilidade descortinada pela carreira de verem seu talento reconhecido e sua capacidade intelectual estimulada. Nesse sentido, distinguir os profissionais de melhor desempenho em sala de aula, com iniciativas como bônus no salário e mais responsabilidade na escola, tem sido, há décadas, um potente motor de atração para a carreira de professor mundo afora. O Brasil precisa aprender a lição.
Esta matéria foi publicada na revista VEJA Edição 2151 – 10/02/10

RESPONSABILIDADE EDUCACIONAL

Na próxima semana será encaminhado ao Congresso Nacional o Projeto de Lei de Responsabilidade Educacional. A ideia é antiga no setor e foi uma das propostas aprovadas em abril na Conferência Nacional de Educação (Conae).

A ideia é criar um mecanismo semelhante à Lei de Responsabilidade Fiscal, que possa punir gestores que administrarem mal os recursos da área ou não cumprir metas de melhoria da educação determinadas em lei. O ministro da Educação, Fernando Haddad, acredita que a ferramenta legal dará mais efetividade às propostas apresentadas ontem (15) no novo Plano Nacional de Educação (PNE).

De acordo com o ministro, a proposta na verdade vai alterar um trecho da Lei de Ação Civil Pública. “Depois de muito debate, chegamos à conclusão de que você deve responsabilizar o gestor quando ele não cumpre obrigações. Por exemplo, se eu digo no PNE que ele tem um ano para fazer o seu plano municipal ou estadual de Educação, ele está descumprindo uma lei federal”, defende. O atual PNE, ainda em vigor, já determinava em 2001 que cada estado e município deveria elaborar seu próprio plano, mas poucos cumpriram a orientação.

O Ministério Público será a instância responsável por fiscalizar e cobrar de prefeitos e governadores, além do governo federal, o cumprimento de metas educacionais e outras determinações legais. Haddad afirmou que no caso das metas qualitativas, como as estabelecidas no PNE para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), não há como aferir se a culpa é ou não do gestor.

“Tivemos esse cuidado durante o debate porque às vezes o gestor fez tudo que estava ao seu alcance para melhorar a qualidade, mas eventualmente não cumpriu uma meta. Temos que verificar se ele está sendo diligente em relação às suas obrigações”, exemplificou.

As sanções seriam as mesmas previstas na Lei de Ação Civil Pública, que vão de multa a reclusão. Haddad acredita que o texto chegará ao Congresso Nacional até segunda-feira (21).

ALUNOS X DROGAS

Estudantes de escolas particulares experimentam mais drogas do que alunos de escolas públicas. Levantamento nacional sobre o consumo de substâncias psicotrópicas desenvolvido pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) revela que um a cada quatro estudantes brasileiros, do ensino fundamental e médio, já experimentou algum tipo de entorpecente que não álcool ou cigarro. Deles, mais de 30,2% são da rede privada, enquanto 24,2% frequentam escolas públicas.

Uma das hipóteses sugeridas pelo professor Elisaldo Carlini, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), responsável pelo estudo, é o fato de os alunos da rede privada terem maior poder aquisitivo. “Eles têm mais dinheiro, o que facilita o acesso aos entorpecentes. E também frequentam ambientes vulneráveis ao consumo das substâncias”, diz. No entanto, de acordo com Carlini, apesar de a experimentação ser maior nesse grupo, o uso frequente (seis ou mais vezes nos últimos 30 dias a partir da resposta ao questionário) ou pesado (20 ou mais vezes no mesmo período) ocorre com maior intensidade entre estudantes de escolas públicas.

O levantamento foi feito nas 26 capitais e no Distrito Federal, com 50.890 estudantes. Mais de 700 escolas colaboraram com o estudo, sendo 35,2% delas da rede privada e 64,8% da rede pública de ensino. Outro dado preocupante diz respeito ao aumento do consumo de cocaína entre os alunos. Nos últimos seis anos, a quantidade deles que usaram ao menos uma vez a droga passou de 2% para 2,8%.

O dado assusta, pois os consumidores de cocaína são mais vulneráveis ao uso do crack. “Por serem consideradas drogas estimulantes, o usuário de cocaína tem maior probabilidade de procurar o crack”, explica Juliana Peroni, psicóloga do Centro de Encaminhamento e Tratamento Psicossocial de Dependentes Químicos em Brasília. Das cinco drogas mais consumidas – solventes, maconha, ansiolíticos, cocaína e anfetamínicos – a cocaína foi a única que apresentou aumento de uso entre 2004 e 2010.

Apenas 0,7% dos estudantes admitiram já ter experimentado crack. Segundo a secretária-adjunta da Senad, Paulina Duarte, o dado, no entanto, pode não representar a realidade. “Devido à dependência do crack se instalar muito rapidamente e causar isolamento social, talvez seu usuário não esteja nas escolas”, diz. Ela afirma que em fevereiro será divulgada pesquisa somente sobre o crack, que possibilitará uma análise mais próxima da realidade sobre o consumo da substância.

Em Belo Horizonte, a psicóloga Maria Regina Ziziani Pimentel, da Associação Brasileira e Comunitária para a Prevenção do Abuso de Drogas (Abraço), atualmente trabalha com 40 jovens em um projeto da Vara da Infância e da Juventude em conjunto com a Abraço e aponta a criação de perspectivas como uma das mais eficazes estratégias para que o dependente encontre a saída para o alçapão do vício. “Temos que trabalhar em uma rede bem articulada. Tentamos fazer com que o adolescente tenha sonhos, metas, tentando inseri-lo novamente em sua identidade”, diz.
Do Estado de Minas

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UM TERÇO DOS PROFESSORES LECIONA SEM CURSO SUPERIOR

Quase um terço dos professores da educação básica das redes pública e particular do Brasil não tem formação adequada. Do total de 1,977 milhão de docentes, 636,8 mil - 32,19% - ensinam sem diploma universitário. De acordo com dados de 2009 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o quadro piora nas regiões mais pobres do país.
 
Dos cerca de 600 mil professores do Nordeste, metade não tem ensino superior. Na Bahia e no Maranhão, mais de 60% dos profissionais do magistério não cursaram a universidade. Nos Estados da região Norte, os docentes apenas com ensino médio e fundamental somam 76,3 mil, número que representa 45,98% do total. Dos 70,7 mil professores do Pará, 39,7 mil (56,14%) apresentam formação inadequada. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a taxa média dos sem-diploma é de 20% de um total de 1,213 milhão de docentes.
 
Nos últimos dez anos, o país reduziu em 17 pontos percentuais a taxa de professores sem curso superior. Dados do Inep de 1999 mostram que 49,3% dos 2,338 milhões de docentes do ensino básico não eram formados na universidade. No Norte e Nordeste, a média dos profissionais sem diploma era de 75,29% e 71,55%, respectivamente. Segundo especialistas, o lento avanço na formação inicial de professores se deve à execução de políticas esparsas, que não contavam com integração entre as diferentes esferas de governo.
 
Na avaliação de educadores e autoridades, a defasagem de escolaridade no magistério é um dos problemas mais graves da educação brasileira. Afeta diretamente - para baixo - os resultados de indicadores que medem a qualidade do ensino. "Uma escola funciona sem certos equipamentos, sem diretor, sem um monte de gente, mas não sem professor", raciocina Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
 
Os números desenham bem o problema. Quanto maior o percentual de docentes com formação inadequada, menor é a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Os piores Estados em formação, como Bahia, Maranhão e Pará, tiveram as piores médias do Ideb para ensino médio, entre 3 e 3,3. Por outro lado, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, que sustentam os maiores percentuais de professores com terceiro grau, estão posicionados na parte de cima da tabela do Ideb, com notas que vão de 3,8 a 4,2.
 
Para tentar resolver o problema, em 2009, o governo federal enviou ao Congresso projeto de lei (PL 280) que torna obrigatória a formação universitária do docente para todas as etapas do ensino básico, do infantil ao médio, e lançou um Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor), sob a responsabilidade da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em parceria com Estados e municípios. A nova política prevê a abertura de 400 mil vagas em licenciaturas exclusivamente para professores das redes municipais e estaduais com defasagem de escolaridade em cerca de 150 universidades federais, estaduais, comunitárias e instituições de ensino a distância de 25 Estados. Estima-se um gasto de R$ 2 bilhões em três anos.
 
As inscrições no plano de formação são feitas pela internet na Plataforma Paulo Freire e dependem de aprovação das secretarias municipais e estaduais de Educação. Em seguida, a demanda é encaminhada às universidades participantes, que recebem recursos federais para abrir os cursos. A Capes prevê o preenchimento de cerca de 50 mil vagas, presenciais e a distância, no primeiro semestre de 2010.
 
Apesar dos esforços, o diretor de educação básica da Capes, João Carlos Teatini, admite que a meta de zerar o número de professores sem formação superior pode levar dez anos. Segundo ele, é preciso levar em conta que o tempo médio de conclusão dos cursos do plano de formação é de três anos e país continua contratando professores sem diploma universitário. Em 2009, o estoque de docentes da educação básica apenas com o ensino médio ficou bem acima do objetivo do plano, em cerca de 625 mil - 22% mais que os 510,8 mil profissionais registrados nas redes pública e particular um ano antes.
 
"Esperamos fechar 2010 com 100 mil entradas desde o início do Parfor, no segundo semestre de 2009. O maior desafio é mobilizar Estados e, principalmente, municípios. Eles precisam levantar a demanda e garantir as condições para que o profissional fique no programa, o que nem sempre acontece. Por isso foram criados os fóruns estaduais permanentes de apoio à formação", afirma Teatini.
 
Na Bahia, onde mais de 100 mil professores não têm diploma universitário, 12,5 mil profissionais da rede estadual estão matriculados no plano de formação. Cada um deles recebe cerca de R$ 500 extras no contracheque para custear os gastos de locomoção, hospedagem e alimentação durante o curso. "Temos 417 municípios e apenas 32 têm universidades. Esse auxílio é muito importante para o sucesso da política. Há muitas prefeituras que não liberam recursos e inviabilizam a obtenção do diploma", conta Penildon Silva Filho, responsável pela área de formação da Secretaria Estadual da Educação da Bahia.
 
Segundo ele, a defasagem de escolaridade está concentrada na rede municipal. "Pelos nossos levantamentos, 7,5 mil professores da rede estadual e 58 mil da rede municipal estão aptos para participar do Parfor." No âmbito dos fóruns permanentes, governos estaduais e a Capes estudam ajudar as prefeituras a custear bolsas para o plano de formação.
 
Além do problema da formação inicial, João Carlos Teatini levanta outro problema: 300 mil professores com formação superior atuando fora da área de formação. Esses também estão credenciados a entrar no Parfor. "São licenciados em física dando aula de matemática, graduados em pedagogia lecionando língua portuguesa. Isso gera um prejuízo enorme no aprendizado."
 
É o caso de Georgia Juli Souza, professora da rede estadual no município baiano de Itabi, na região de Anápolis. Formada em geografia, ela dá aula de educação física. "Houve uma reformulação no quadro de professores da escola e ficou faltando um professor. A escola não ia abrir concurso só para essa vaga, alguém tinha que assumir. Eu fui escolhida para completar minha carga horária", lembra.
 
No começo do ano, ela se inscreveu na Plataforma Freire para a licenciatura em educação física. Uma semana por mês ela viaja para Anápolis, onde estuda, em período integral, de segunda a sábado, com gastos cobertos pelo Estado direto no salário. "Não gosto de entrar em outras disciplinas, mas como tive que entrar é melhor estar preparada. Antes não tinha noção, as aulas eram mais recreativas. Agora tenho mais responsabilidade, trabalho com metodologia, pensando no bem-estar e no desenvolvimento dos alunos dentro da escola", conta Georgia.
 
FONTE: VALOR ECONÔMICO - 14/12/2010
 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Polícia prende aluno suspeito de matar professor a facada em BH


O universitário preso em Belo Horizonte após a morte de um professor confessou o crime em depoimento à Polícia Civil nesta quarta-feira (8). De acordo com o delegado Breno Pardini, Amilton Loyola assumiu ter esfaqueado o professor e disse que era perseguido por ele. A motivação, segundo Pardini, será investigada e diverge da versão de testemunhas de que uma nota baixa recebida pelo aluno seria a causa da agressão.
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes tinha 39 anos, era casado e deixou dois filhos, de acordo com informações de amigos. O crime aconteceu na noite desta terça-feira (7) dentro do Instituto Metodista Izabela Hendrix, próximo à Praça da Liberdade, na região centro-sul de Belo Horizonte. Após esfaquear o professor, o aluno fugiu de moto.

Ainda segundo o delegado, o aluno disse em depoimento que entrou com a faca escondida na mochila e que pretendia apenas intimidar o professor. O estudante de Educação Física deixou o Departamento de Investigações em Belo Horizonte no fim da manhã desta quarta-feira (8) escoltado e retornou em seguida para dar continuidade aos depoimentos. Segundo a assessoria da Polícia Civil,  ele vai passar por exame de corpo de delito no Instituto de Criminalística  e vai ser transferido para o Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) Gameleira, na região de Belo Horizonte. Ele foi preso de madrugada em casa, sem resistir à prisão, e foi ouvido.
A confissão do crime foi confirmada pelo advogado do preso, Nelson Rogério Leão. Segundo a defesa, o universitário sofre de transtorno bipolar e é esquizofrênico. "O professor era exigente, mas nada justifica um ato deste", disse o advogado.

Segundo um policial, um irmão do suspeito disse à PM, nesta terça-feira (7), que Loyola é usuário de drogas.


Lamentam violência
O Instituto Metodista Izabela Hendrix em Belo Horizonte divulgou em nota oficial que está prestando apoio à família do professor e está colaborando com a investigação da polícia. Ainda segundo a nota, a faculdade lamenta o ocorrido e informa que a instituição conta com 52 vigilantes e 53 câmeras de circuito interno de TV. De acordo com a assessoria do instituto, as gravações foram encaminhadas para a polícia.
O Sindicato dos Professores da Rede Privada de Minas Gerais (Sinpro Minas) também se manifestou. A entidade disse em nota que lamenta profundamente a morte do professor e se solidarizou com os familiares. O Sinpro Minas classificou o caso como trágico e disse que o episódio "revela a relação tensa e de desrespeito que milhares de docentes têm vivido no interior das escolas".  Ainda segundo o sindicato, os donos de escolas vêm sendo informados do aumento da violência contra a categoria no cotidiano escolar.

http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2010/12/universitario-confessa-ter-matado-professor-dentro-de-faculdade-em-bh.html

A LONGA TRAGÉDIA EDUCACIONAL BRASILEIRA

Apesar de registrar melhora na última década, a educação no Brasil ainda está muito longe da de países com boa qualidade de ensino. Entre os 65 países que participaram da mais completa avaliação mundial sobre o nível de conhecimento, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), os brasileiros ficaram em 53º lugar, obtendo a média de 401 pontos numa escala que chega a 800. Em leitura, 49% dos alunos brasileiros ficaram no patamar mais baixo de aprendizado, o nível 1, ou até mesmo abaixo dele. Em matemática, o percentual de estudantes com o pior desempenho, no nível 1, chegou a 69%. Em ciência, 54% dos estudantes também têm conhecimento muito limitado.
 
Elaborada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aplicada em alunos de 15 anos de idade, a prova mostra, no entanto, que a educação brasileira tem evoluído. Há dez anos, o país estava na lanterna do ranking do Pisa - em 2000, o Brasil permanecia no 45º lugar entre 45 países. Na edição de 2009, a média do Brasil subiu 33 pontos, o terceiro maior crescimento registrado na avaliação. A curva de crescimento do país ficou atrás apenas da de Chile e de Luxemburgo. Mesmo assim, o país ficou pior que países como Tailândia, Trinidad e Tobago, México e Turquia.
 
- Não podemos negar que o aumento do investimento melhorou a educação. Mas estávamos falando de uma educação péssima. Daqui para frente, o desafio é muito maior - avaliou Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação.
 
O exame do Pisa classifica o desempenho dos alunos segundo seis níveis de proficiência em leitura, matemática e ciência. Cada um deles indica um grau de conhecimento. Em leitura, por exemplo, o aluno que está no nível 1 identifica o tema principal de um texto ou estabelece conexões com conhecimentos do dia a dia. Já o aluno que obtém nível cinco é capaz de avaliar, criticar e até levantar hipóteses sobre o conteúdo. Em matemática, o aluno que obtém nível 1 só realiza ações óbvias e segue estímulos externos.
 
Matemática: o pior desempenho
 
No Brasil, apenas 0,1% dos alunos alcançou nas provas de leitura e matemática média equivalente ao nível 6, o mais alto da avaliação. Em ciências, 0,6% dos estudantes tiveram média que corresponde ao nível 5 de conhecimento. Ninguém conseguiu alcançar o nível mais alto na escala de proficiência, em que os alunos dominam conceitos mais complexos.
 
Das três áreas avaliadas pelo Pisa, o pior desempenho dos alunos brasileiros foi registrado na prova de matemática. Segundo a OCDE, o país obteve apenas 386 pontos em matemática, única área em que a nota não atingiu a meta de 395 pontos, estabelecida pelo próprio Ministério da Educação. Em leitura, a pontuação atingiu 412, seguida de ciências, com 405. Entretanto, no quadro comparativo de nove anos, entre 2000 e 2009, a matemática obteve a maior evolução (52 pontos), contra 30 pontos de aumento em ciências e apenas 16 de leitura.
 
Na média geral, o resultado das meninas brasileiras (403 pontos) superou o dos meninos (399 pontos). Na comparação com 2006, elas também obtiveram notas melhores, com um salto de 18 pontos, contra 15 dos colegas. No principal tema da prova (leitura), o conhecimento das meninas evoluiu ainda mais. Entre 2000 e 2009, a média das estudantes subiu 21 pontos, contra apenas nove dos alunos.
 
- A matemática oferece o maior desafio para a educação brasileira. Dos poucos alunos que conseguem terminar a graduação, pouquíssimos ficam no magistério. Tem muito professor de geografia dando aula de matemática. Isso é decisivo para que tenhamos esse baixo aproveitamento - analisa o professor Célio da Cunha, do Departamento de Educação da Universidade de Brasília (UnB).
 
Segundo a avaliação feita pela OCDE, com base nos dados do Pisa, as políticas educacionais do Brasil melhoraram nos últimos dez anos. Entretanto, são insuficientes para pôr os estudantes brasileiros num nível no mercado global da indústria e comércio.
 
"A média do Brasil melhorou em todos os aspectos. Obviamente, não põe o Brasil entre os países com alta performance, mas tais ganhos sugerem que o Brasil pôs em prática políticas coerentes, que aparentemente geram resultados consistentes. O desafio agora é aumentar o nível de educação o bastante para permitir aos cidadãos a disputa de espaço no mercado global", avalia a OCDE.
 
A educadora Guiomar Namo de Mello, diretora da Escola Brasileira de Professores (Ebrap) e ex-secretária municipal de Educação de São Paulo, critica os projetos de valorização do professor - questão que, para ela, é fundamental para a melhoria da educação.
- A política de valorização do professor é um desastre. Não há consenso e ficam colocando panos quentes. Parece que nada se resolve sem consenso. Por isso, nossa formação continua inadequada - afirmou.
 
Guiomar também critica o "regime federativo" brasileiro na educação que discute, por exemplo, segundo ela, um currículo nacional.
 
- É muito difícil fazer um currículo em um país grande e diverso como é o nosso. É o mesmo problema dos Estados Unidos. Somos um país com muita diversidade e muita desigualdade - disse, chamando a atenção para a diferença das notas do Pisa entre as escolas privadas (502) e as públicas brasileiras (387).
 
- Isso revela a grande desigualdade que a gente mantém entre nós. E isso porque não podemos considerar nenhuma maravilha as grandes escolas particulares - comparou, observando ainda que os países latinos que estão na frente conseguiram esses resultados porque fizeram grandes esforços para melhorar.
 
O Pisa é feito por amostragem e contabiliza informações extraídas de alunos que estão concluindo o ensino fundamental ou ingressando no ensino médio. Em 2009, a OCDE aplicou a prova em 20 mil alunos no Brasil. Na comparação com a média da OCDE, de 496 pontos, o Brasil está significativamente abaixo da média da organização em todos os quesitos. Em relação aos países da América Latina, o Brasil ultrapassou a Argentina, mas ainda está atrás de Chile, do Uruguai e do México. No cômputo geral, a região de Xangai (China) obteve o melhor índice (577 pontos), à frente de Hong Kong e da Finlândia, respectivamente com 546 e 543 pontos.
 
FONTE: O GLOBO - 08/12/2010