sábado, 13 de novembro de 2010

IMPASSE SOBRE ENEM 'CONGELA' 48 MIL VAGAS

A suspensão da validade das provas do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) realizadas neste fim de semana deixa em aberto o destino que será dado a pelo menos 48.458 vagas oferecidas em instituições federais. Das 84 universidades e instituições que participam do exame, 36 dependem exclusivamente do exame para selecionar alunos para 2010. Reunidas, elas respondem por 53% de todas as vagas oferecidas pelo Enem.
 
Ao contrário do ano passado, quando a prova foi anulada e o processo de reaplicação do Enem ficou todo sob o controle do Ministério da Educação (MEC), o Enem deste ano depende mais do tempo que o Judiciário vai precisar para tomar uma decisão final sobre o exame.
 
Para as instituições que gostariam de usar o Enem apenas como parte do processo seletivo, se o impasse entre o MEC e o Judiciário se prolongar, o plano alternativo possível é, segundo os reitores ouvidos pelo Estado, levar em conta apenas as notas do aluno no vestibular e deixar de lado o exame nacional.
 
"Daí a esperança de que o impasse na Justiça seja rapidamente resolvido", afirmou o reitor da Universidade Federal de São Carlos, Targino de Araújo Filho. Para o reitor, que também é representante da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), as instituições que dependem exclusivamente do Enem não pensam, no momento, em nenhuma alternativa para o exame.
 
"Ano passado, o exame foi suspenso por causa do vazamento da prova e, mesmo assim, não houve prejuízo para o calendário", avaliou Targino Filho. "Acredito que neste ano não será diferente."
 
Sistema misto. O problema deste ano, no entanto, é que, além da solução final estar nas mãos do Judiciário, o adiamento da prova em 2009 ocorreu no início de outubro. O que deu uma folga de um mês e dez dias em relação ao exame deste ano.
 
As universidades têm autonomia para decidir se continuam ou não usando o Enem em seu processo de seleção. Instituições ouvidas pelo Estado afirmam que vão aguardar ainda esta semana para verificar qual é a melhor atitude a ser adotada. Aquelas que têm sistema de seleção misto dizem estar tranquilas.
 
É o caso, por exemplo, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. A instituição definiu um prazo para que as notas do Enem sejam apresentadas. Se até a data determinada tal nota não tenha sido divulgada, a alternativa será usar apenas as notas dos alunos obtidas em seu vestibular.
 
Abandono. Aquelas que usam apenas o Enem, em tese, poderiam retornar para um vestibular próprio. Algo que dificilmente vai ocorrer, por causa de toda logística que está em jogo. Além disso, um eventual abandono do uso do Enem, neste momento, poderia representar uma deserção - algo que dirigentes de instituições federais querem evitar ao máximo.
 
"Até agora, não ouvi de nenhuma instituição essa possibilidade. Todos nós estamos confiantes", afirmou o reitor da UFSCar. Este é o primeiro ano que a universidade baseia todo sistema de seleção de novos alunos nos resultados do Enem. "O exame é muito bem feito, tenho certeza de que ele será usado neste e nos próximos anos."
 
O reitor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Josivam Barbosa, tem discurso semelhante: "A prova do Enem é bem elaborada. Pelo sistema é possível escolher alunos de ótima qualidade, vindos de todos os lugares do País. Uma prova isolada, feita apenas pela instituição, tiraria esse caráter de uma seleção com alunos de todo o País."
 
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO - 11/11/2010

CORREIO BRAZILIENSE: MEC E JUSTIÇA EM GUERRA FRIA

Diante de uma ação do Ministério Público que afeta a vida de 3,3 milhões de estudantes do país, a juíza Karla de Almeida Miranda Maia, da 7ª Vara da Justiça Federal no Ceará, não decidiu se vai levar adiante a decisão de anular o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - pelo menos não ainda. O decreto da anulação do exame foi o principal pedido da ação declaratória incidental, do procurador da República no Ceará Oscar Costa Filho, proposta na última quarta-feira. Depois de analisar o documento, a juíza deixou a vara da Justiça ontem, às 18h, apenas com o seguinte "despacho inaugural": o convite dos réus para uma possível defesa - o outro pedido do MP.
 
Os réus - no caso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a Fundação Cesgranrio e o Instituto Cespe - deverão agora convencer a Justiça da validade do exame, com argumentos que justifiquem todas as falhas publicamente assumidas. Até agora, apenas o Inep - autarquia do Ministério da Educação responsável pelo Enem - se esforçava em dar explicações, restritas ao convencimento de que somente 2 mil estudantes deveriam realizar novo exame, em vez da totalidade dos candidatos. Ontem, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou a defesa do Inep à juíza da 7ª Vara e ao Tribunal Regional Federal da 5ª região, argumentando que a metodologia utilizada na elaboração do exame, a Teoria de Resposta ao Item (TRI), possibilita a aplicação de provas em períodos diferentes, com o mesmo grau de dificuldade - o que garantiria isonomia a diferentes testes.
 
Haddad
 
Ainda que indefinida, a situação preocupa %u2014 bastante %u2014 o ministro da Educação, Fernando Haddad. Em reunião com representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) (leia mais na página 9), o ministro voltou a dizer que não cogita realizar todo o processo novamente para todos os alunos, mas afirmou que se não conseguir derrubar a liminar, um novo exame levaria até 90 dias para ser feito. "O ministro disse que está confiante na Justiça, mas especulou que, para refazer a prova para todos, teria que ter um prazo de 60 a 90 dias", disse o presidente da UNE, Augusto Chagas, ao Correio, na noite de ontem.
 
Foi a primeira vez que Haddad admitiu a possibilidade de reaplicar o Enem. Curiosamente, no ano passado, quando a prova foi roubada, o ministro disse que poderia realizar o teste em um mês. Acabou levando 60 dias. O maior problema do prazo está justamente no maior chamariz do exame: o fato de ser utilizado como parte do processo de seleção de algumas das principais universidades do país. Se for realizado daqui a 90 dias, elas dificilmente usarão as notas no primeiro semestre do ano que vem.
 
A mais recente ação proposta pelo Ministério Público cita diversos "vícios" na execução do Enem 2010. Entre eles, enumera: "Erro na impressão dos gabaritos oficiais", "o caderno de cor amarela apresentava vários erros de impressão", e o fato de que "um repórter entrou na sala de aula para fazer a prova, portando celular ligado no bolso, e conseguiu informar, de dentro das dependências do local de prova, qual era o tema da redação". O procurador Oscar Costa Filho afirma, na ação, que apesar do reconhecimento de erros na organização, execução e aplicação do exame, "a única intenção aparente (do Inep e do Ministério da Educação) é remediar os efeitos e minimizar a gravidade dos acontecimentos". Ao Correio, Costa Filho defendeu que a TRI não pode ser usada como argumento para que apenas 2 mil estudantes refaçam o teste. "O ministério defende a tese da equivalência, e não da igualdade. Uma avaliação como essa exige questões idênticas", resumiu.
 
A ação incidental apresentada na quarta-feira foi anexada à ação civil pública apresentada em 20 de outubro deste ano, também por Oscar Costa Filho. Antes mesmo da aplicação do Enem, o procurador já denunciava problemas de organização. Segundo a ação, as empresas contratadas para aplicar a prova - Cespe e Cesgranrio - não estariam se responsabilizando pelo processo, repassando a outras instituições o que deveria ser feito por elas: "Ocorre que as responsáveis pela logística, organização e aplicação do Enem estão contatando instituições de ensino médio, inclusive privadas, para que elas próprias intermedeiem a aplicação das provas, cedendo salas, contratando fiscais, profissionais especializados e, o mais grave, ficando responsáveis pela guarda prévia e posterior dos exames", apresentou.
 
Protesto
 
Uma das principais denúncias apresentadas por estudantes à Defensoria Pública da União foi justamente o despreparo de fiscais. De acordo com a DPU, houve um caso de denúncias vindo do Rio de Janeiro, no qual o "estudante recebeu de um fiscal aquele apagador de texto do tipo liquid paper para corrigir o preenchimento do cartão de resposta que já havia iniciado".
 
Enquanto segue a indefinição, estudantes de todo o país mantêm o clima de apreensão (leia mais na página 9) e de indignação. Ontem, com nariz de palhaço e cartazes que diziam "Enem-ganados", cerca de 300 estudantes de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, protestaram contra as falhas na avaliação do MEC. O grupo fechou parte da Avenida Amaral Peixoto, uma das principais vias da cidade, e caminhou até a Praça do Arariboia. Lá, eles queimaram cadernos de prova do Enem
 
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE - 12/11/2010

sábado, 6 de novembro de 2010

Saco de pancadas

Para Tavares dos Santos (2001) a violência surgiria como uma forma de sociabilidade, configurando-se como um mecanismo de controle social, aberto e contínuo. Nas suas palavras:
"A violência seria a relação social de excesso de poder que impede o reconhecimento do outro - pessoa, classe, gênero ou raça - mediante o uso da força ou da coerção, provocando algum tipo de dano, configurando o oposto das possibilidades da sociedade democrática contemporânea" (p.107).
Nos estudos acerca da violência escolar, adquire importância a questão da violência simbólica, conceito introduzido por Bourdieu (1998), que cria a possibilidade de consenso, sendo dessa forma utilizada como instrumento de dominação pelos representantes do poder na escola, entre os quais se coloca o professor.
O poder simbólico é quase mágico, permitindo obter através da palavra e do convencimento o que se consegue pela força física, e, portanto, sem gasto de energia (Bourdieu, 1998). Trazendo esse conceito para a realidade das instituições escolares, percebe-se o professor com um duplo papel: de um lado, como representante do poder - dominador - e de outro, o de dominado, submetendo-se a regulamentos e exigências burocraticamente estabelecidas.
Refletindo sobre a adjetivação da violência com o termo escolar, Ristum (2004a) propõe que se diferencie a que é engendrada nas especificidades das relações escolares e a que, apesar de acontecer nela, poderia ocorrer em qualquer outra situação social, não devendo, portanto, ser qualificada como escolar. Nesse sentido, ela abarcaria as ações protagonizadas por membros da escola (alunos, professores, diretores, funcionários) e realizadas com motivação pertinente às características e dinâmica desta instituição.
Sposito (1998) afirma que os significados do termo violência podem passar por alterações coerentes com o conjunto das ações escolares, com o seu contexto de produção e manifestação, sendo necessário investigar como aí são produzidas significações que designam e normalizam condutas violentas ou indisciplinadas por parte dos atores envolvidos.
O presente estudo adota como referencial a teoria histórico-cultural, que busca compreender a origem e o desenvolvimento dos processos mentais dos seres humanos. Nesta perspectiva, entende-se que a cultura torna-se parte da natureza humana, moldando o funcionamento psicológico, ao longo de um processo histórico; ressalta-se o caráter socialmente construído da subjetividade dos homens (Vygotsky, 1984, 1988).
No âmbito da proposta da Psicologia histórico-cultural, Vygotsky destaca, de acordo com Tunes e Simão (1998), a importância, para a pesquisa em Psicologia, de considerar os informes e interrogatórios verbais do sujeito. Essas autoras afirmam que o relato verbal, enquanto técnica de coleta de dados, pode ser tomado como representante da consciência dos indivíduos, permitindo o estudo de processos subjetivos a que somente o sujeito tem acesso. Nesse sentido, a pesquisa com relatos verbais possibilita uma análise objetiva dos fenômenos conscientes. Seguindo nessa argumentação, as autoras defendem que, durante o relato verbal, o sujeito seleciona dados da sua realidade, cabendo ao pesquisador organizar o conteúdo das falas, atribuindo-lhe significados, de forma a permitir a emergência de novos dados. Dessa maneira, a participação do pesquisador associa-se ao processo mais amplo da gênese social da consciência humana.
Em um estudo, em que foram analisadas as concepções de professores sobre processos de ensino-aprendizagem, através de relato verbal, Silva e Tunes (1999) apontam que o discurso deles está intimamente associado a sua ação em sala de aula e afirmam ser possível estudar o pensamento das pessoas através de sua fala que, nas condições reais de vida, não se separa de sua ação. Esta posição pode ser relacionada à tese de Vygotsky, conforme Lúria (1986), segundo a qual o pensamento se forma ou se realiza na linguagem.
Seguindo enfoque semelhante, Bruner (1997) defende a importância de se considerar, no estudo psicológico do homem, não apenas o que as pessoas fazem, mas também o que elas dizem e como explicam suas ações, principalmente, argumentando que uma Psicologia de orientação cultural deve partir da premissa de que dizer e fazer representam uma unidade funcionalmente inseparável.

PROFESSORA AGREDIDA DENTRO DE ESCOLA DEVE SER INDENIZADA PELO ESTADO


O Distrito Federal deverá indenizar uma professora que foi agredida fisicamente por um aluno dentro da escola. A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que o Estado pode ser responsabilizado por omissão quando não presta a devida segurança aos seus servidores. A decisão ainda manteve o valor da indenização em R$ 10 mil, conforme entendimento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).
De acordo com o processo, a professora já vinha sofrendo ameaças de morte pelo aluno agressor. Segundo ela, a direção da escola, apesar de ciente, não tomou medidas para o afastamento imediato do estudante da sala de aula e não providenciou sua segurança. Após o dano sofrido, foram realizados exames de corpo de delito e psicológicos, os quais demonstraram as graves lesões, danos físicos e morais. Segundo os autos, a professora passou a ter receio de ministrar aulas com medo de sofrer nova agressão, mesmo sendo remanejada para outro centro de ensino.
Inicialmente, a servidora ajuizou uma ação de reparação de danos contra o DF, o diretor e o assistente da escola onde lecionava, com o intuito de responsabilizá-los pela má prestação no atendimento e pela omissão do poder público. O valor estipulado pela docente para a indenização, em princípio, era de R$ 15 mil.
O Distrito Federal alegou que não pode ser responsabilizado diante de omissões genéricas e que era necessária a devida comprovação de culpa da administração em não prestar a devida segurança, tendo em vista que havia a presença de um policial que não foi informado pela direção da escola sobre o ocorrido em sala de aula. O Distrito Federal nega haver relação de causa entre a falta de ação do poder público e o dano configurado.
A decisão em primeiro grau estabeleceu a indenização no valor de R$ 10 mil e afastou a responsabilidade do diretor e do assistente da escola, e manteve o Distrito Federal como responsável pelo dano causado. A professora apelou ao TJDFT na tentativa de elevar o valor da indenização e ver reconhecida a responsabilização do diretor e do assistente do centro educacional. O TJDFT, por sua vez, manteve o valor da indenização e concluiu que os agentes públicos não deveriam ser responsabilizados. O tribunal reconheceu que a culpa recai exclusivamente ao Distrito Federal, a quem incumbe manter a segurança da escola.
O recurso especial interposto ao STJ busca afastar a responsabilidade do Estado por omissão no caso. No processo, o relator, ministro Castro Meira, esclareceu que ficou demonstrado o nexo causal entre a inação do poder público e o dano sofrido pela vítima, o que, segundo o relator, gera a obrigação do Estado em reparar o dano. O ministro ressaltou que o fato de haver um policial na escola não afasta a responsabilidade do DF, pois evidenciou a má prestação do serviço público.
No voto, o relator observou que ocorre culpa do Estado quando o serviço não funciona, funciona mal, ou funciona intempestivamente. Ao manter o entendimento do TJDFT, o ministro Castro Meira assegurou que o tribunal aplicou de maneira fundamentada o regime de responsabilidade civil.
FONTE: STJ

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Projeto de Lei: Professores poderão ter direito a 14º salário.

Proposta que garante bonificação anual para os profissionais da educação básica que estiverem em exercício nas escolas e melhorarem seu desempenho poderá ser votado nesta quarta-feira (3) pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS). O projeto (PLS 319/08) é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

O benefício deverá ser concedido aos profissionais de escolas que elevarem em 50% o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ou outro indicador que o suceda, ou alcançarem o índice mínimo de seis. Para o pagamento da bonificação, deve haver prévia reserva nas leis orçamentárias.

O projeto será votado na forma do substitutivo apresentado pela senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN). A senadora mudou a proposta original, dando a ela um caráter autorizativo e não mais obrigatório.

Entre os 33 itens em pauta na CAS, consta ainda projeto que institui a Política Nacional de Medicamentos (PLS 83/2010). De autoria do senador Papaléo Paes (PSDB-AP), a proposta recebeu voto favorável do relator, senado Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).

Escolas, uma novela todo dia...

Depois do projeto leituras do professor e partindo de pesquisas realizadas na área, o governo do Estado de São Paulo pretende inaugurar um programa inusitado. Pesquisas detectaram pouca distância entre o universo cultural dos mais de 230 mil docentes e o dos alunos. Alguns pesquisadores, como Orlando Willer, da Faculdade de Educação da USP, apontaram que a alta quantidade de professores que são telespectadores assíduos de novelas tem causado impactos negativos no processo de aprendizagem. O professor e pesquisador indica que há muitas paradas na aula para comentários sobre as produções, geralmente globais, e que se perde o potencial de transformar o corpo docente num formador cultural. Diante disto, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pretende implantar detectores de audiência nos aparelhos dos professores que aderirem ao programa, dando um bônus para os docentes que recusarem as novelas e seguirem programas educativos. Os valores da bonificação estão sendo discutidos por um grupo de trabalho criado para projetos na área.

O Estado de São Paulo - 03/11/2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aula Cronometrada

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima "Aula Cronometrada". É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS  razões que  geram este panorama desalentador.(VEJA)
 
            Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas  para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que "os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital" entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.
Que alunos são esses "repletos de estímulos" que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que  pais de famílias oriundas da pobreza  trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos  em suas atividades escolares, e pior, em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que, infelizmente, são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.
Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.
Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje "repletos de estímulos".
Estímulos de quê?  De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior, envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.
Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.    
Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos,  há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que, se estudássemos, teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje, os jovens constatam
que, se venderem drogas, vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos,  de ir aos piqueniques, subir em árvores?
E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas "chatas" só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência.
Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.
Hoje, professores "incapazes" dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução),  levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.
E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores "incapazes",  elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração.
Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40h semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que, embora apresente atestado médico, tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário. 
  Há de se pensar, então, que  são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de "cair fora".Todos devem ter vocação para Irmã Dulce, porque por mais que  esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de "vaca","puta", "gordos ", "velhos", entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.
Temos notícias, dia-a-dia,  até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares. 
Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.
E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos. 
Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é  porque há disciplina.
E é isso que precisamos e não de cronômetros.  Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se. 
Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade.
Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade!  E, precisamos, também, urgentemente, de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo
Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões  (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!  Passou da hora de todos abrirem os olhos  e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores  até agora  não responderam a todas as acusações de serem despreparados e  "incapazes" de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.
Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.