terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Os 11 mandamentos do estudante de química

01 - O Estudante de Química sabe sempre a matéria; se não responde é para não inferiorizar o professor.
02 - O Estudante de Química nunca estraga o material escolar; testa sua resistência.
03 - O Estudante de Química nunca se deixa dormir; o despertador é que não toca.
04 - O Estudante de Química nunca é posto fora da aula; é que sua presença é necessária noutro local.
05 - O Estudante de Química nunca diz mal de um professor; faz uma critica construtiva salientando os seus defeitos.
06 - O Estudante de Química nunca copia; recolhe dados.
07 - O Estudante de Química nunca reprova; renova sua experiência.
08 - O Estudante de Química nunca conspira contra os professores; estes é que tem espírito de conspiração.
09 - O Estudante de Química nunca bebe; degusta.
10 - O Estudante de Química nunca fuma; estuda os efeitos nocivos do tabaco.
11 - O Estudante de Química nunca falta; não comparece por motivos de força maior.
                                        Adiciono o 12º mandamento...
12º - O estudante de Química não fica 'chapado'; analisa o teor alcóolico das bebidas e os seus efeitos no organismo. (Rosy)



Retirado do site: http://oalquimistasarrista.blogspot.com/

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

EU ACUSO

J’ACUSE !!!
(Eu acuso !)
(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)

« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. (Émile Zola)
Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola)


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de  convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.


Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e  do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os  “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.


Igor Pantuzza Wildmann

Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A montanha pariu um rato

A montanha pariu um rato
Luiz Araújo

Nesta manhã cinzenta de Brasília, no Palácio do Planalto, o presidente Lula, ladeado do atual Ministro da Educação Fernando Haddad, apresentou a proposta de Plano Nacional de Educação para os próximos dez anos.
Havia forte expectativa em relação ao teor do texto, que se justificavam por se tratar de um plano elaborado por um governo considerado de esquerda (mesmo que isso conceitualmente e programaticamente não seja consensual!), forçando comparação imediata com o conteúdo do projeto apresentado pelo seu antecessor (FHC). Também havia forte esperança de que o texto "bebesse na fonte" das deliberações da Conferência Nacional de Educação, evento que mobilizou grande parcela dos educadores e foi finalizado com a etapa nacional em abril passado.
As expectativas estavam vinculadas também a necessidade de superação dos enormes desafios educacionais, especialmente depois da fraca execução do plano anterior.
Infelizmente a primeira impressão (fruto de uma primeira leitura do texto composto de vinte metas, 170 estratégias e 12 artigos iniciais) não é positiva, por isso o provocativo título desta postagem.
Pretendo realizar um exaustivo trabalho de análise do texto, mas adianto algumas observações iniciais:
1ª. Ao contrário do PNE anterior, este não veio acompanhado de um diagnóstico da situação educacional até 2010. Pelo que eu sei este trabalho foi encomendado a especialistas e realizado. Deveria seguir com anexo, pois é com base no diagnóstico que podemos verificar se uma meta é factível, aceitável ou se porventura apresenta um formato tímido.
2ª. Houve polêmica sobre o tamanho que deveria ter o novo PNE, ficando claro que o governo optou por um PNE mais conciso. Não tenho nada contra em princípio ao formato apresentado. O problema que detectei é outro. O texto do novo PNE não possui, como regra, metas intermediárias, sendo contraditório com a proposta colocada no seu artigo 6º, que estabelece a realização de duas conferências nacionais para avaliar a execução do plano. Como avaliar se o desempenho é positivo se não está dito o quanto deveria ter sido alcançado nos quatro ou cinco primeiros anos? A exceção é a meta 9, que trata da erradicação do combate ao analfabetismo.
3ª. Fala-se muito no texto em regime de colaboração, mas pouco se efetiva as responsabilidades de cada ente federado. Em alguns momentos fico com a impressão de que o texto é um plano federal de educação, pois a verbo sempre é "induzir", "fomentar", "propor", como se o plano estivesse direcionado a ajudar os estados e municípios a cumprir suas obrigações. Este certamente foi um problema do plano anterior e parece se repetir neste. O único momento em que a questão é formatada é na meta 17, que institui um fórum com entes federados e trabalhadores para acompanhar salário dos docentes.
4ª. A parte que deveria ser a mais forte, inexplicavelmente é a mais fraca. O Plano anterior sofreu com os vetos do FHC a sua parte financeira. Este está melhor, induzido pela Emenda 59, que obriga escrever o percentual de aplicação dos recursos educacionais em relação ao PIB, e pelas deliberações da CONAE, o projeto apresenta a projeção de aumento progressivo do gasto público em educação para alcançar 7% do PIB em 2020. Isso é positivo, mas pouco, senão vejamos:
4.1. Em 2001 o parlamento propôs que este fosse o gasto em 2010, ou seja, estamos prorrogando por mais dez anos a mesma meta não alcançada.
4.2. Na época a sociedade civil reivindicava 10% e na CONAE foi aprovado este percentual maior. O governo federal desconsiderou tal proposta.
4.3. No seu artigo 5º há uma brecha (uma avenida!) para o seu descumprimento. Lá está dito que esta meta deve ser avaliada após quatro anos de vigência. Os otimistas dirão que esta revisão será para aumentar. Será? Não é dito quem irá avaliar, podendo representar uma autorização legislativa para que o governo federal altere o principal aspecto do plano sem consulta, por exemplo.
4.4. E o mais grave, o documento não diz quem vai pagar a conta. Ou seja, precisamos saltar (mesmo que um pequeno salto em relação às necessidades educacionais!) de 5% em 2009 para 7% em 2020. Para isso é necessário mais recursos, obviamente. De onde sairão os recursos? Quem contribuirá e com quanto?
5ª. O texto governamental conseguiu a proeza de praticamente "sumir" com uma das principais inovações da CONAE, que foi o estabelecimento do Custo Aluno-qualidade como referência para o financiamento. A palavra só aparece na estratégia 20.5, adiando sua efetivação para o final da segunda década deste novo século. E, sem citar o nome, na estratégia 7.19.
Durante toda a semana comentarei neste espaço cada meta e suas respectivas estratégias.
Meu sentimento inicial é de frustração com o texto. Não que ele não seja melhor em muitos aspectos ao anterior. Mas ele está muito aquém do acúmulo conseguido na CONAE.
Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Fonte: Blog do Luiz Araújo

PNE 2011 x 2020

Confira as 20 metas que compõem o Plano Nacional de Educação 2011-2020
Amanda Cieglinski
Brasília, 15/12/2010 (Agência Brasil) - O projeto de lei que institui o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que deverá vigorar nos próximos dez anos, foi entregue hoje (14) pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento estabelece 20 metas a serem alcançadas pelo país até 2020. O texto também detalha as estratégias necessárias para alcançar os objetivos delimitados.
Conheça as metas que compõem o Plano Nacional de Educação 2011-2020:
Meta 1: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos.
Meta 2: Criar mecanismos para o acompanhamento individual de cada estudante do ensino fundamental.
Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa etária.
Meta 4: Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.
Meta 5: Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os 8 anos de idade.
Meta 6: Oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica.
Meta 7: Atingir as médias nacionais para o Ideb já previstas no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)
Meta 8: Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos de modo a alcançar mínimo de 12 anos de estudo para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.
Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.
Meta 10: Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.
Meta 11: Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta.
Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta.
Meta 13: Elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores. Sete estratégias.
Meta 14: Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores. Nove estratégias.
Meta 15: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
Meta 16: Formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua área de atuação.
Meta 17: Valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente.
Meta 18: Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de ensino.
Meta 19: Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar.
Meta 20: Ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Amanda Cieglinski é repórter da Agência Brasil

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um desastre para o ensino

Pesquisa mostra que os bons alunos não querem
mais seguir o magistério – um desastre para o ensino.

Um bom termômetro para aferir o prestígio de uma profissão é o número de jovens que a assinalam como primeira opção na hora do vestibular. Por esse medidor, a carreira de professor, que décadas atrás foi um símbolo de status, nunca esteve tão em baixa. Uma nova pesquisa, conduzida pela Fundação Carlos Chagas a pedido da Fundação Victor Civita, chama atenção para o problema, trazendo à luz um dado preocupante: às vésperas de ingressarem na universidade, apenas 2% dos estudantes brasileiros pretendem seguir o magistério – opção que os outros 98% já descartaram. No levantamento, baseado numa amostra de 1 500 alunos de ensino médio em escolas públicas e particulares de todo o país, o curso de pedagogia patina na 36ª colocação, entre as sessenta carreiras que hoje mais exercem fascínio sobre os jovens – lista encabeçada pelas áreas de direito, engenharia e medicina. Agrava o cenário saber que esses poucos que ainda optam pela docência se concentram justamente no grupo dos 30% de alunos com as piores notas na escola. Pouco disputado, o curso de pedagogia significa, para a imensa maioria dos estudantes, a única porta de entrada possível para o ensino superior – e não uma carreira de que realmente gostam. Conclui a especialista Bernardete Gatti, coordenadora da pesquisa: “Sem atrair as melhores cabeças para as faculdades de pedagogia, o Brasil jamais conseguirá deixar as últimas colocações nos rankings de ensino”.
“Meu pai não quer”
Alunos de ensino médio: eles são desencorajados em casa de optar pelo curso de pedagogia
A situação de desprestígio da carreira de professor é o retrato final de um processo deflagrado na década de 70, quando se iniciou no país uma acelerada massificação do ensino público. Sem profissionais em número suficiente para suprir a galopante demanda, as escolas passaram a recrutar até leigos para dar aulas. Foi aí também que as faculdades de pedagogia e as licenciaturas proliferaram à revelia da qualidade acadêmica, e os salários começaram a cair. A remuneração dos professores é, por sinal, o segundo fator elencado pelos jovens de hoje para nem sequer cogitarem o magistério, atrás de um item que se refere à completa falta de identificação com o ofício, segundo mostra a pesquisa da Fundação Carlos Chagas. Os estudantes contam ainda que são desencorajados pelos próprios pais de fazer essa opção. Boa parte dos entrevistados chega a afirmar que a família “jamais aceitaria tal escolha profissional”. Países onde o ensino prima pela excelência, como Coreia do Sul e Finlândia, encontraram bons caminhos para atrair os alunos mais brilhantes às faculdades de pedagogia – experiência que pode ser útil também ao Brasil. Ela indica que elevar o salário dos professores é apenas uma das estratégias eficazes, mas não a de maior impacto. O que realmente suscita o fascínio dos melhores alunos pela docência diz respeito, acima de tudo, à possibilidade descortinada pela carreira de verem seu talento reconhecido e sua capacidade intelectual estimulada. Nesse sentido, distinguir os profissionais de melhor desempenho em sala de aula, com iniciativas como bônus no salário e mais responsabilidade na escola, tem sido, há décadas, um potente motor de atração para a carreira de professor mundo afora. O Brasil precisa aprender a lição.
Esta matéria foi publicada na revista VEJA Edição 2151 – 10/02/10

RESPONSABILIDADE EDUCACIONAL

Na próxima semana será encaminhado ao Congresso Nacional o Projeto de Lei de Responsabilidade Educacional. A ideia é antiga no setor e foi uma das propostas aprovadas em abril na Conferência Nacional de Educação (Conae).

A ideia é criar um mecanismo semelhante à Lei de Responsabilidade Fiscal, que possa punir gestores que administrarem mal os recursos da área ou não cumprir metas de melhoria da educação determinadas em lei. O ministro da Educação, Fernando Haddad, acredita que a ferramenta legal dará mais efetividade às propostas apresentadas ontem (15) no novo Plano Nacional de Educação (PNE).

De acordo com o ministro, a proposta na verdade vai alterar um trecho da Lei de Ação Civil Pública. “Depois de muito debate, chegamos à conclusão de que você deve responsabilizar o gestor quando ele não cumpre obrigações. Por exemplo, se eu digo no PNE que ele tem um ano para fazer o seu plano municipal ou estadual de Educação, ele está descumprindo uma lei federal”, defende. O atual PNE, ainda em vigor, já determinava em 2001 que cada estado e município deveria elaborar seu próprio plano, mas poucos cumpriram a orientação.

O Ministério Público será a instância responsável por fiscalizar e cobrar de prefeitos e governadores, além do governo federal, o cumprimento de metas educacionais e outras determinações legais. Haddad afirmou que no caso das metas qualitativas, como as estabelecidas no PNE para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), não há como aferir se a culpa é ou não do gestor.

“Tivemos esse cuidado durante o debate porque às vezes o gestor fez tudo que estava ao seu alcance para melhorar a qualidade, mas eventualmente não cumpriu uma meta. Temos que verificar se ele está sendo diligente em relação às suas obrigações”, exemplificou.

As sanções seriam as mesmas previstas na Lei de Ação Civil Pública, que vão de multa a reclusão. Haddad acredita que o texto chegará ao Congresso Nacional até segunda-feira (21).

ALUNOS X DROGAS

Estudantes de escolas particulares experimentam mais drogas do que alunos de escolas públicas. Levantamento nacional sobre o consumo de substâncias psicotrópicas desenvolvido pela Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad) revela que um a cada quatro estudantes brasileiros, do ensino fundamental e médio, já experimentou algum tipo de entorpecente que não álcool ou cigarro. Deles, mais de 30,2% são da rede privada, enquanto 24,2% frequentam escolas públicas.

Uma das hipóteses sugeridas pelo professor Elisaldo Carlini, pesquisador do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), responsável pelo estudo, é o fato de os alunos da rede privada terem maior poder aquisitivo. “Eles têm mais dinheiro, o que facilita o acesso aos entorpecentes. E também frequentam ambientes vulneráveis ao consumo das substâncias”, diz. No entanto, de acordo com Carlini, apesar de a experimentação ser maior nesse grupo, o uso frequente (seis ou mais vezes nos últimos 30 dias a partir da resposta ao questionário) ou pesado (20 ou mais vezes no mesmo período) ocorre com maior intensidade entre estudantes de escolas públicas.

O levantamento foi feito nas 26 capitais e no Distrito Federal, com 50.890 estudantes. Mais de 700 escolas colaboraram com o estudo, sendo 35,2% delas da rede privada e 64,8% da rede pública de ensino. Outro dado preocupante diz respeito ao aumento do consumo de cocaína entre os alunos. Nos últimos seis anos, a quantidade deles que usaram ao menos uma vez a droga passou de 2% para 2,8%.

O dado assusta, pois os consumidores de cocaína são mais vulneráveis ao uso do crack. “Por serem consideradas drogas estimulantes, o usuário de cocaína tem maior probabilidade de procurar o crack”, explica Juliana Peroni, psicóloga do Centro de Encaminhamento e Tratamento Psicossocial de Dependentes Químicos em Brasília. Das cinco drogas mais consumidas – solventes, maconha, ansiolíticos, cocaína e anfetamínicos – a cocaína foi a única que apresentou aumento de uso entre 2004 e 2010.

Apenas 0,7% dos estudantes admitiram já ter experimentado crack. Segundo a secretária-adjunta da Senad, Paulina Duarte, o dado, no entanto, pode não representar a realidade. “Devido à dependência do crack se instalar muito rapidamente e causar isolamento social, talvez seu usuário não esteja nas escolas”, diz. Ela afirma que em fevereiro será divulgada pesquisa somente sobre o crack, que possibilitará uma análise mais próxima da realidade sobre o consumo da substância.

Em Belo Horizonte, a psicóloga Maria Regina Ziziani Pimentel, da Associação Brasileira e Comunitária para a Prevenção do Abuso de Drogas (Abraço), atualmente trabalha com 40 jovens em um projeto da Vara da Infância e da Juventude em conjunto com a Abraço e aponta a criação de perspectivas como uma das mais eficazes estratégias para que o dependente encontre a saída para o alçapão do vício. “Temos que trabalhar em uma rede bem articulada. Tentamos fazer com que o adolescente tenha sonhos, metas, tentando inseri-lo novamente em sua identidade”, diz.
Do Estado de Minas

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

UM TERÇO DOS PROFESSORES LECIONA SEM CURSO SUPERIOR

Quase um terço dos professores da educação básica das redes pública e particular do Brasil não tem formação adequada. Do total de 1,977 milhão de docentes, 636,8 mil - 32,19% - ensinam sem diploma universitário. De acordo com dados de 2009 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o quadro piora nas regiões mais pobres do país.
 
Dos cerca de 600 mil professores do Nordeste, metade não tem ensino superior. Na Bahia e no Maranhão, mais de 60% dos profissionais do magistério não cursaram a universidade. Nos Estados da região Norte, os docentes apenas com ensino médio e fundamental somam 76,3 mil, número que representa 45,98% do total. Dos 70,7 mil professores do Pará, 39,7 mil (56,14%) apresentam formação inadequada. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a taxa média dos sem-diploma é de 20% de um total de 1,213 milhão de docentes.
 
Nos últimos dez anos, o país reduziu em 17 pontos percentuais a taxa de professores sem curso superior. Dados do Inep de 1999 mostram que 49,3% dos 2,338 milhões de docentes do ensino básico não eram formados na universidade. No Norte e Nordeste, a média dos profissionais sem diploma era de 75,29% e 71,55%, respectivamente. Segundo especialistas, o lento avanço na formação inicial de professores se deve à execução de políticas esparsas, que não contavam com integração entre as diferentes esferas de governo.
 
Na avaliação de educadores e autoridades, a defasagem de escolaridade no magistério é um dos problemas mais graves da educação brasileira. Afeta diretamente - para baixo - os resultados de indicadores que medem a qualidade do ensino. "Uma escola funciona sem certos equipamentos, sem diretor, sem um monte de gente, mas não sem professor", raciocina Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
 
Os números desenham bem o problema. Quanto maior o percentual de docentes com formação inadequada, menor é a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Os piores Estados em formação, como Bahia, Maranhão e Pará, tiveram as piores médias do Ideb para ensino médio, entre 3 e 3,3. Por outro lado, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, que sustentam os maiores percentuais de professores com terceiro grau, estão posicionados na parte de cima da tabela do Ideb, com notas que vão de 3,8 a 4,2.
 
Para tentar resolver o problema, em 2009, o governo federal enviou ao Congresso projeto de lei (PL 280) que torna obrigatória a formação universitária do docente para todas as etapas do ensino básico, do infantil ao médio, e lançou um Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor), sob a responsabilidade da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em parceria com Estados e municípios. A nova política prevê a abertura de 400 mil vagas em licenciaturas exclusivamente para professores das redes municipais e estaduais com defasagem de escolaridade em cerca de 150 universidades federais, estaduais, comunitárias e instituições de ensino a distância de 25 Estados. Estima-se um gasto de R$ 2 bilhões em três anos.
 
As inscrições no plano de formação são feitas pela internet na Plataforma Paulo Freire e dependem de aprovação das secretarias municipais e estaduais de Educação. Em seguida, a demanda é encaminhada às universidades participantes, que recebem recursos federais para abrir os cursos. A Capes prevê o preenchimento de cerca de 50 mil vagas, presenciais e a distância, no primeiro semestre de 2010.
 
Apesar dos esforços, o diretor de educação básica da Capes, João Carlos Teatini, admite que a meta de zerar o número de professores sem formação superior pode levar dez anos. Segundo ele, é preciso levar em conta que o tempo médio de conclusão dos cursos do plano de formação é de três anos e país continua contratando professores sem diploma universitário. Em 2009, o estoque de docentes da educação básica apenas com o ensino médio ficou bem acima do objetivo do plano, em cerca de 625 mil - 22% mais que os 510,8 mil profissionais registrados nas redes pública e particular um ano antes.
 
"Esperamos fechar 2010 com 100 mil entradas desde o início do Parfor, no segundo semestre de 2009. O maior desafio é mobilizar Estados e, principalmente, municípios. Eles precisam levantar a demanda e garantir as condições para que o profissional fique no programa, o que nem sempre acontece. Por isso foram criados os fóruns estaduais permanentes de apoio à formação", afirma Teatini.
 
Na Bahia, onde mais de 100 mil professores não têm diploma universitário, 12,5 mil profissionais da rede estadual estão matriculados no plano de formação. Cada um deles recebe cerca de R$ 500 extras no contracheque para custear os gastos de locomoção, hospedagem e alimentação durante o curso. "Temos 417 municípios e apenas 32 têm universidades. Esse auxílio é muito importante para o sucesso da política. Há muitas prefeituras que não liberam recursos e inviabilizam a obtenção do diploma", conta Penildon Silva Filho, responsável pela área de formação da Secretaria Estadual da Educação da Bahia.
 
Segundo ele, a defasagem de escolaridade está concentrada na rede municipal. "Pelos nossos levantamentos, 7,5 mil professores da rede estadual e 58 mil da rede municipal estão aptos para participar do Parfor." No âmbito dos fóruns permanentes, governos estaduais e a Capes estudam ajudar as prefeituras a custear bolsas para o plano de formação.
 
Além do problema da formação inicial, João Carlos Teatini levanta outro problema: 300 mil professores com formação superior atuando fora da área de formação. Esses também estão credenciados a entrar no Parfor. "São licenciados em física dando aula de matemática, graduados em pedagogia lecionando língua portuguesa. Isso gera um prejuízo enorme no aprendizado."
 
É o caso de Georgia Juli Souza, professora da rede estadual no município baiano de Itabi, na região de Anápolis. Formada em geografia, ela dá aula de educação física. "Houve uma reformulação no quadro de professores da escola e ficou faltando um professor. A escola não ia abrir concurso só para essa vaga, alguém tinha que assumir. Eu fui escolhida para completar minha carga horária", lembra.
 
No começo do ano, ela se inscreveu na Plataforma Freire para a licenciatura em educação física. Uma semana por mês ela viaja para Anápolis, onde estuda, em período integral, de segunda a sábado, com gastos cobertos pelo Estado direto no salário. "Não gosto de entrar em outras disciplinas, mas como tive que entrar é melhor estar preparada. Antes não tinha noção, as aulas eram mais recreativas. Agora tenho mais responsabilidade, trabalho com metodologia, pensando no bem-estar e no desenvolvimento dos alunos dentro da escola", conta Georgia.
 
FONTE: VALOR ECONÔMICO - 14/12/2010
 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Polícia prende aluno suspeito de matar professor a facada em BH


O universitário preso em Belo Horizonte após a morte de um professor confessou o crime em depoimento à Polícia Civil nesta quarta-feira (8). De acordo com o delegado Breno Pardini, Amilton Loyola assumiu ter esfaqueado o professor e disse que era perseguido por ele. A motivação, segundo Pardini, será investigada e diverge da versão de testemunhas de que uma nota baixa recebida pelo aluno seria a causa da agressão.
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes tinha 39 anos, era casado e deixou dois filhos, de acordo com informações de amigos. O crime aconteceu na noite desta terça-feira (7) dentro do Instituto Metodista Izabela Hendrix, próximo à Praça da Liberdade, na região centro-sul de Belo Horizonte. Após esfaquear o professor, o aluno fugiu de moto.

Ainda segundo o delegado, o aluno disse em depoimento que entrou com a faca escondida na mochila e que pretendia apenas intimidar o professor. O estudante de Educação Física deixou o Departamento de Investigações em Belo Horizonte no fim da manhã desta quarta-feira (8) escoltado e retornou em seguida para dar continuidade aos depoimentos. Segundo a assessoria da Polícia Civil,  ele vai passar por exame de corpo de delito no Instituto de Criminalística  e vai ser transferido para o Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) Gameleira, na região de Belo Horizonte. Ele foi preso de madrugada em casa, sem resistir à prisão, e foi ouvido.
A confissão do crime foi confirmada pelo advogado do preso, Nelson Rogério Leão. Segundo a defesa, o universitário sofre de transtorno bipolar e é esquizofrênico. "O professor era exigente, mas nada justifica um ato deste", disse o advogado.

Segundo um policial, um irmão do suspeito disse à PM, nesta terça-feira (7), que Loyola é usuário de drogas.


Lamentam violência
O Instituto Metodista Izabela Hendrix em Belo Horizonte divulgou em nota oficial que está prestando apoio à família do professor e está colaborando com a investigação da polícia. Ainda segundo a nota, a faculdade lamenta o ocorrido e informa que a instituição conta com 52 vigilantes e 53 câmeras de circuito interno de TV. De acordo com a assessoria do instituto, as gravações foram encaminhadas para a polícia.
O Sindicato dos Professores da Rede Privada de Minas Gerais (Sinpro Minas) também se manifestou. A entidade disse em nota que lamenta profundamente a morte do professor e se solidarizou com os familiares. O Sinpro Minas classificou o caso como trágico e disse que o episódio "revela a relação tensa e de desrespeito que milhares de docentes têm vivido no interior das escolas".  Ainda segundo o sindicato, os donos de escolas vêm sendo informados do aumento da violência contra a categoria no cotidiano escolar.

http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2010/12/universitario-confessa-ter-matado-professor-dentro-de-faculdade-em-bh.html

A LONGA TRAGÉDIA EDUCACIONAL BRASILEIRA

Apesar de registrar melhora na última década, a educação no Brasil ainda está muito longe da de países com boa qualidade de ensino. Entre os 65 países que participaram da mais completa avaliação mundial sobre o nível de conhecimento, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), os brasileiros ficaram em 53º lugar, obtendo a média de 401 pontos numa escala que chega a 800. Em leitura, 49% dos alunos brasileiros ficaram no patamar mais baixo de aprendizado, o nível 1, ou até mesmo abaixo dele. Em matemática, o percentual de estudantes com o pior desempenho, no nível 1, chegou a 69%. Em ciência, 54% dos estudantes também têm conhecimento muito limitado.
 
Elaborada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aplicada em alunos de 15 anos de idade, a prova mostra, no entanto, que a educação brasileira tem evoluído. Há dez anos, o país estava na lanterna do ranking do Pisa - em 2000, o Brasil permanecia no 45º lugar entre 45 países. Na edição de 2009, a média do Brasil subiu 33 pontos, o terceiro maior crescimento registrado na avaliação. A curva de crescimento do país ficou atrás apenas da de Chile e de Luxemburgo. Mesmo assim, o país ficou pior que países como Tailândia, Trinidad e Tobago, México e Turquia.
 
- Não podemos negar que o aumento do investimento melhorou a educação. Mas estávamos falando de uma educação péssima. Daqui para frente, o desafio é muito maior - avaliou Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação.
 
O exame do Pisa classifica o desempenho dos alunos segundo seis níveis de proficiência em leitura, matemática e ciência. Cada um deles indica um grau de conhecimento. Em leitura, por exemplo, o aluno que está no nível 1 identifica o tema principal de um texto ou estabelece conexões com conhecimentos do dia a dia. Já o aluno que obtém nível cinco é capaz de avaliar, criticar e até levantar hipóteses sobre o conteúdo. Em matemática, o aluno que obtém nível 1 só realiza ações óbvias e segue estímulos externos.
 
Matemática: o pior desempenho
 
No Brasil, apenas 0,1% dos alunos alcançou nas provas de leitura e matemática média equivalente ao nível 6, o mais alto da avaliação. Em ciências, 0,6% dos estudantes tiveram média que corresponde ao nível 5 de conhecimento. Ninguém conseguiu alcançar o nível mais alto na escala de proficiência, em que os alunos dominam conceitos mais complexos.
 
Das três áreas avaliadas pelo Pisa, o pior desempenho dos alunos brasileiros foi registrado na prova de matemática. Segundo a OCDE, o país obteve apenas 386 pontos em matemática, única área em que a nota não atingiu a meta de 395 pontos, estabelecida pelo próprio Ministério da Educação. Em leitura, a pontuação atingiu 412, seguida de ciências, com 405. Entretanto, no quadro comparativo de nove anos, entre 2000 e 2009, a matemática obteve a maior evolução (52 pontos), contra 30 pontos de aumento em ciências e apenas 16 de leitura.
 
Na média geral, o resultado das meninas brasileiras (403 pontos) superou o dos meninos (399 pontos). Na comparação com 2006, elas também obtiveram notas melhores, com um salto de 18 pontos, contra 15 dos colegas. No principal tema da prova (leitura), o conhecimento das meninas evoluiu ainda mais. Entre 2000 e 2009, a média das estudantes subiu 21 pontos, contra apenas nove dos alunos.
 
- A matemática oferece o maior desafio para a educação brasileira. Dos poucos alunos que conseguem terminar a graduação, pouquíssimos ficam no magistério. Tem muito professor de geografia dando aula de matemática. Isso é decisivo para que tenhamos esse baixo aproveitamento - analisa o professor Célio da Cunha, do Departamento de Educação da Universidade de Brasília (UnB).
 
Segundo a avaliação feita pela OCDE, com base nos dados do Pisa, as políticas educacionais do Brasil melhoraram nos últimos dez anos. Entretanto, são insuficientes para pôr os estudantes brasileiros num nível no mercado global da indústria e comércio.
 
"A média do Brasil melhorou em todos os aspectos. Obviamente, não põe o Brasil entre os países com alta performance, mas tais ganhos sugerem que o Brasil pôs em prática políticas coerentes, que aparentemente geram resultados consistentes. O desafio agora é aumentar o nível de educação o bastante para permitir aos cidadãos a disputa de espaço no mercado global", avalia a OCDE.
 
A educadora Guiomar Namo de Mello, diretora da Escola Brasileira de Professores (Ebrap) e ex-secretária municipal de Educação de São Paulo, critica os projetos de valorização do professor - questão que, para ela, é fundamental para a melhoria da educação.
- A política de valorização do professor é um desastre. Não há consenso e ficam colocando panos quentes. Parece que nada se resolve sem consenso. Por isso, nossa formação continua inadequada - afirmou.
 
Guiomar também critica o "regime federativo" brasileiro na educação que discute, por exemplo, segundo ela, um currículo nacional.
 
- É muito difícil fazer um currículo em um país grande e diverso como é o nosso. É o mesmo problema dos Estados Unidos. Somos um país com muita diversidade e muita desigualdade - disse, chamando a atenção para a diferença das notas do Pisa entre as escolas privadas (502) e as públicas brasileiras (387).
 
- Isso revela a grande desigualdade que a gente mantém entre nós. E isso porque não podemos considerar nenhuma maravilha as grandes escolas particulares - comparou, observando ainda que os países latinos que estão na frente conseguiram esses resultados porque fizeram grandes esforços para melhorar.
 
O Pisa é feito por amostragem e contabiliza informações extraídas de alunos que estão concluindo o ensino fundamental ou ingressando no ensino médio. Em 2009, a OCDE aplicou a prova em 20 mil alunos no Brasil. Na comparação com a média da OCDE, de 496 pontos, o Brasil está significativamente abaixo da média da organização em todos os quesitos. Em relação aos países da América Latina, o Brasil ultrapassou a Argentina, mas ainda está atrás de Chile, do Uruguai e do México. No cômputo geral, a região de Xangai (China) obteve o melhor índice (577 pontos), à frente de Hong Kong e da Finlândia, respectivamente com 546 e 543 pontos.
 
FONTE: O GLOBO - 08/12/2010
 

sábado, 13 de novembro de 2010

IMPASSE SOBRE ENEM 'CONGELA' 48 MIL VAGAS

A suspensão da validade das provas do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) realizadas neste fim de semana deixa em aberto o destino que será dado a pelo menos 48.458 vagas oferecidas em instituições federais. Das 84 universidades e instituições que participam do exame, 36 dependem exclusivamente do exame para selecionar alunos para 2010. Reunidas, elas respondem por 53% de todas as vagas oferecidas pelo Enem.
 
Ao contrário do ano passado, quando a prova foi anulada e o processo de reaplicação do Enem ficou todo sob o controle do Ministério da Educação (MEC), o Enem deste ano depende mais do tempo que o Judiciário vai precisar para tomar uma decisão final sobre o exame.
 
Para as instituições que gostariam de usar o Enem apenas como parte do processo seletivo, se o impasse entre o MEC e o Judiciário se prolongar, o plano alternativo possível é, segundo os reitores ouvidos pelo Estado, levar em conta apenas as notas do aluno no vestibular e deixar de lado o exame nacional.
 
"Daí a esperança de que o impasse na Justiça seja rapidamente resolvido", afirmou o reitor da Universidade Federal de São Carlos, Targino de Araújo Filho. Para o reitor, que também é representante da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), as instituições que dependem exclusivamente do Enem não pensam, no momento, em nenhuma alternativa para o exame.
 
"Ano passado, o exame foi suspenso por causa do vazamento da prova e, mesmo assim, não houve prejuízo para o calendário", avaliou Targino Filho. "Acredito que neste ano não será diferente."
 
Sistema misto. O problema deste ano, no entanto, é que, além da solução final estar nas mãos do Judiciário, o adiamento da prova em 2009 ocorreu no início de outubro. O que deu uma folga de um mês e dez dias em relação ao exame deste ano.
 
As universidades têm autonomia para decidir se continuam ou não usando o Enem em seu processo de seleção. Instituições ouvidas pelo Estado afirmam que vão aguardar ainda esta semana para verificar qual é a melhor atitude a ser adotada. Aquelas que têm sistema de seleção misto dizem estar tranquilas.
 
É o caso, por exemplo, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. A instituição definiu um prazo para que as notas do Enem sejam apresentadas. Se até a data determinada tal nota não tenha sido divulgada, a alternativa será usar apenas as notas dos alunos obtidas em seu vestibular.
 
Abandono. Aquelas que usam apenas o Enem, em tese, poderiam retornar para um vestibular próprio. Algo que dificilmente vai ocorrer, por causa de toda logística que está em jogo. Além disso, um eventual abandono do uso do Enem, neste momento, poderia representar uma deserção - algo que dirigentes de instituições federais querem evitar ao máximo.
 
"Até agora, não ouvi de nenhuma instituição essa possibilidade. Todos nós estamos confiantes", afirmou o reitor da UFSCar. Este é o primeiro ano que a universidade baseia todo sistema de seleção de novos alunos nos resultados do Enem. "O exame é muito bem feito, tenho certeza de que ele será usado neste e nos próximos anos."
 
O reitor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Josivam Barbosa, tem discurso semelhante: "A prova do Enem é bem elaborada. Pelo sistema é possível escolher alunos de ótima qualidade, vindos de todos os lugares do País. Uma prova isolada, feita apenas pela instituição, tiraria esse caráter de uma seleção com alunos de todo o País."
 
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO - 11/11/2010

CORREIO BRAZILIENSE: MEC E JUSTIÇA EM GUERRA FRIA

Diante de uma ação do Ministério Público que afeta a vida de 3,3 milhões de estudantes do país, a juíza Karla de Almeida Miranda Maia, da 7ª Vara da Justiça Federal no Ceará, não decidiu se vai levar adiante a decisão de anular o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - pelo menos não ainda. O decreto da anulação do exame foi o principal pedido da ação declaratória incidental, do procurador da República no Ceará Oscar Costa Filho, proposta na última quarta-feira. Depois de analisar o documento, a juíza deixou a vara da Justiça ontem, às 18h, apenas com o seguinte "despacho inaugural": o convite dos réus para uma possível defesa - o outro pedido do MP.
 
Os réus - no caso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a Fundação Cesgranrio e o Instituto Cespe - deverão agora convencer a Justiça da validade do exame, com argumentos que justifiquem todas as falhas publicamente assumidas. Até agora, apenas o Inep - autarquia do Ministério da Educação responsável pelo Enem - se esforçava em dar explicações, restritas ao convencimento de que somente 2 mil estudantes deveriam realizar novo exame, em vez da totalidade dos candidatos. Ontem, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou a defesa do Inep à juíza da 7ª Vara e ao Tribunal Regional Federal da 5ª região, argumentando que a metodologia utilizada na elaboração do exame, a Teoria de Resposta ao Item (TRI), possibilita a aplicação de provas em períodos diferentes, com o mesmo grau de dificuldade - o que garantiria isonomia a diferentes testes.
 
Haddad
 
Ainda que indefinida, a situação preocupa %u2014 bastante %u2014 o ministro da Educação, Fernando Haddad. Em reunião com representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) (leia mais na página 9), o ministro voltou a dizer que não cogita realizar todo o processo novamente para todos os alunos, mas afirmou que se não conseguir derrubar a liminar, um novo exame levaria até 90 dias para ser feito. "O ministro disse que está confiante na Justiça, mas especulou que, para refazer a prova para todos, teria que ter um prazo de 60 a 90 dias", disse o presidente da UNE, Augusto Chagas, ao Correio, na noite de ontem.
 
Foi a primeira vez que Haddad admitiu a possibilidade de reaplicar o Enem. Curiosamente, no ano passado, quando a prova foi roubada, o ministro disse que poderia realizar o teste em um mês. Acabou levando 60 dias. O maior problema do prazo está justamente no maior chamariz do exame: o fato de ser utilizado como parte do processo de seleção de algumas das principais universidades do país. Se for realizado daqui a 90 dias, elas dificilmente usarão as notas no primeiro semestre do ano que vem.
 
A mais recente ação proposta pelo Ministério Público cita diversos "vícios" na execução do Enem 2010. Entre eles, enumera: "Erro na impressão dos gabaritos oficiais", "o caderno de cor amarela apresentava vários erros de impressão", e o fato de que "um repórter entrou na sala de aula para fazer a prova, portando celular ligado no bolso, e conseguiu informar, de dentro das dependências do local de prova, qual era o tema da redação". O procurador Oscar Costa Filho afirma, na ação, que apesar do reconhecimento de erros na organização, execução e aplicação do exame, "a única intenção aparente (do Inep e do Ministério da Educação) é remediar os efeitos e minimizar a gravidade dos acontecimentos". Ao Correio, Costa Filho defendeu que a TRI não pode ser usada como argumento para que apenas 2 mil estudantes refaçam o teste. "O ministério defende a tese da equivalência, e não da igualdade. Uma avaliação como essa exige questões idênticas", resumiu.
 
A ação incidental apresentada na quarta-feira foi anexada à ação civil pública apresentada em 20 de outubro deste ano, também por Oscar Costa Filho. Antes mesmo da aplicação do Enem, o procurador já denunciava problemas de organização. Segundo a ação, as empresas contratadas para aplicar a prova - Cespe e Cesgranrio - não estariam se responsabilizando pelo processo, repassando a outras instituições o que deveria ser feito por elas: "Ocorre que as responsáveis pela logística, organização e aplicação do Enem estão contatando instituições de ensino médio, inclusive privadas, para que elas próprias intermedeiem a aplicação das provas, cedendo salas, contratando fiscais, profissionais especializados e, o mais grave, ficando responsáveis pela guarda prévia e posterior dos exames", apresentou.
 
Protesto
 
Uma das principais denúncias apresentadas por estudantes à Defensoria Pública da União foi justamente o despreparo de fiscais. De acordo com a DPU, houve um caso de denúncias vindo do Rio de Janeiro, no qual o "estudante recebeu de um fiscal aquele apagador de texto do tipo liquid paper para corrigir o preenchimento do cartão de resposta que já havia iniciado".
 
Enquanto segue a indefinição, estudantes de todo o país mantêm o clima de apreensão (leia mais na página 9) e de indignação. Ontem, com nariz de palhaço e cartazes que diziam "Enem-ganados", cerca de 300 estudantes de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, protestaram contra as falhas na avaliação do MEC. O grupo fechou parte da Avenida Amaral Peixoto, uma das principais vias da cidade, e caminhou até a Praça do Arariboia. Lá, eles queimaram cadernos de prova do Enem
 
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE - 12/11/2010

sábado, 6 de novembro de 2010

Saco de pancadas

Para Tavares dos Santos (2001) a violência surgiria como uma forma de sociabilidade, configurando-se como um mecanismo de controle social, aberto e contínuo. Nas suas palavras:
"A violência seria a relação social de excesso de poder que impede o reconhecimento do outro - pessoa, classe, gênero ou raça - mediante o uso da força ou da coerção, provocando algum tipo de dano, configurando o oposto das possibilidades da sociedade democrática contemporânea" (p.107).
Nos estudos acerca da violência escolar, adquire importância a questão da violência simbólica, conceito introduzido por Bourdieu (1998), que cria a possibilidade de consenso, sendo dessa forma utilizada como instrumento de dominação pelos representantes do poder na escola, entre os quais se coloca o professor.
O poder simbólico é quase mágico, permitindo obter através da palavra e do convencimento o que se consegue pela força física, e, portanto, sem gasto de energia (Bourdieu, 1998). Trazendo esse conceito para a realidade das instituições escolares, percebe-se o professor com um duplo papel: de um lado, como representante do poder - dominador - e de outro, o de dominado, submetendo-se a regulamentos e exigências burocraticamente estabelecidas.
Refletindo sobre a adjetivação da violência com o termo escolar, Ristum (2004a) propõe que se diferencie a que é engendrada nas especificidades das relações escolares e a que, apesar de acontecer nela, poderia ocorrer em qualquer outra situação social, não devendo, portanto, ser qualificada como escolar. Nesse sentido, ela abarcaria as ações protagonizadas por membros da escola (alunos, professores, diretores, funcionários) e realizadas com motivação pertinente às características e dinâmica desta instituição.
Sposito (1998) afirma que os significados do termo violência podem passar por alterações coerentes com o conjunto das ações escolares, com o seu contexto de produção e manifestação, sendo necessário investigar como aí são produzidas significações que designam e normalizam condutas violentas ou indisciplinadas por parte dos atores envolvidos.
O presente estudo adota como referencial a teoria histórico-cultural, que busca compreender a origem e o desenvolvimento dos processos mentais dos seres humanos. Nesta perspectiva, entende-se que a cultura torna-se parte da natureza humana, moldando o funcionamento psicológico, ao longo de um processo histórico; ressalta-se o caráter socialmente construído da subjetividade dos homens (Vygotsky, 1984, 1988).
No âmbito da proposta da Psicologia histórico-cultural, Vygotsky destaca, de acordo com Tunes e Simão (1998), a importância, para a pesquisa em Psicologia, de considerar os informes e interrogatórios verbais do sujeito. Essas autoras afirmam que o relato verbal, enquanto técnica de coleta de dados, pode ser tomado como representante da consciência dos indivíduos, permitindo o estudo de processos subjetivos a que somente o sujeito tem acesso. Nesse sentido, a pesquisa com relatos verbais possibilita uma análise objetiva dos fenômenos conscientes. Seguindo nessa argumentação, as autoras defendem que, durante o relato verbal, o sujeito seleciona dados da sua realidade, cabendo ao pesquisador organizar o conteúdo das falas, atribuindo-lhe significados, de forma a permitir a emergência de novos dados. Dessa maneira, a participação do pesquisador associa-se ao processo mais amplo da gênese social da consciência humana.
Em um estudo, em que foram analisadas as concepções de professores sobre processos de ensino-aprendizagem, através de relato verbal, Silva e Tunes (1999) apontam que o discurso deles está intimamente associado a sua ação em sala de aula e afirmam ser possível estudar o pensamento das pessoas através de sua fala que, nas condições reais de vida, não se separa de sua ação. Esta posição pode ser relacionada à tese de Vygotsky, conforme Lúria (1986), segundo a qual o pensamento se forma ou se realiza na linguagem.
Seguindo enfoque semelhante, Bruner (1997) defende a importância de se considerar, no estudo psicológico do homem, não apenas o que as pessoas fazem, mas também o que elas dizem e como explicam suas ações, principalmente, argumentando que uma Psicologia de orientação cultural deve partir da premissa de que dizer e fazer representam uma unidade funcionalmente inseparável.

PROFESSORA AGREDIDA DENTRO DE ESCOLA DEVE SER INDENIZADA PELO ESTADO


O Distrito Federal deverá indenizar uma professora que foi agredida fisicamente por um aluno dentro da escola. A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que o Estado pode ser responsabilizado por omissão quando não presta a devida segurança aos seus servidores. A decisão ainda manteve o valor da indenização em R$ 10 mil, conforme entendimento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).
De acordo com o processo, a professora já vinha sofrendo ameaças de morte pelo aluno agressor. Segundo ela, a direção da escola, apesar de ciente, não tomou medidas para o afastamento imediato do estudante da sala de aula e não providenciou sua segurança. Após o dano sofrido, foram realizados exames de corpo de delito e psicológicos, os quais demonstraram as graves lesões, danos físicos e morais. Segundo os autos, a professora passou a ter receio de ministrar aulas com medo de sofrer nova agressão, mesmo sendo remanejada para outro centro de ensino.
Inicialmente, a servidora ajuizou uma ação de reparação de danos contra o DF, o diretor e o assistente da escola onde lecionava, com o intuito de responsabilizá-los pela má prestação no atendimento e pela omissão do poder público. O valor estipulado pela docente para a indenização, em princípio, era de R$ 15 mil.
O Distrito Federal alegou que não pode ser responsabilizado diante de omissões genéricas e que era necessária a devida comprovação de culpa da administração em não prestar a devida segurança, tendo em vista que havia a presença de um policial que não foi informado pela direção da escola sobre o ocorrido em sala de aula. O Distrito Federal nega haver relação de causa entre a falta de ação do poder público e o dano configurado.
A decisão em primeiro grau estabeleceu a indenização no valor de R$ 10 mil e afastou a responsabilidade do diretor e do assistente da escola, e manteve o Distrito Federal como responsável pelo dano causado. A professora apelou ao TJDFT na tentativa de elevar o valor da indenização e ver reconhecida a responsabilização do diretor e do assistente do centro educacional. O TJDFT, por sua vez, manteve o valor da indenização e concluiu que os agentes públicos não deveriam ser responsabilizados. O tribunal reconheceu que a culpa recai exclusivamente ao Distrito Federal, a quem incumbe manter a segurança da escola.
O recurso especial interposto ao STJ busca afastar a responsabilidade do Estado por omissão no caso. No processo, o relator, ministro Castro Meira, esclareceu que ficou demonstrado o nexo causal entre a inação do poder público e o dano sofrido pela vítima, o que, segundo o relator, gera a obrigação do Estado em reparar o dano. O ministro ressaltou que o fato de haver um policial na escola não afasta a responsabilidade do DF, pois evidenciou a má prestação do serviço público.
No voto, o relator observou que ocorre culpa do Estado quando o serviço não funciona, funciona mal, ou funciona intempestivamente. Ao manter o entendimento do TJDFT, o ministro Castro Meira assegurou que o tribunal aplicou de maneira fundamentada o regime de responsabilidade civil.
FONTE: STJ

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Projeto de Lei: Professores poderão ter direito a 14º salário.

Proposta que garante bonificação anual para os profissionais da educação básica que estiverem em exercício nas escolas e melhorarem seu desempenho poderá ser votado nesta quarta-feira (3) pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS). O projeto (PLS 319/08) é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

O benefício deverá ser concedido aos profissionais de escolas que elevarem em 50% o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ou outro indicador que o suceda, ou alcançarem o índice mínimo de seis. Para o pagamento da bonificação, deve haver prévia reserva nas leis orçamentárias.

O projeto será votado na forma do substitutivo apresentado pela senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN). A senadora mudou a proposta original, dando a ela um caráter autorizativo e não mais obrigatório.

Entre os 33 itens em pauta na CAS, consta ainda projeto que institui a Política Nacional de Medicamentos (PLS 83/2010). De autoria do senador Papaléo Paes (PSDB-AP), a proposta recebeu voto favorável do relator, senado Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).

Escolas, uma novela todo dia...

Depois do projeto leituras do professor e partindo de pesquisas realizadas na área, o governo do Estado de São Paulo pretende inaugurar um programa inusitado. Pesquisas detectaram pouca distância entre o universo cultural dos mais de 230 mil docentes e o dos alunos. Alguns pesquisadores, como Orlando Willer, da Faculdade de Educação da USP, apontaram que a alta quantidade de professores que são telespectadores assíduos de novelas tem causado impactos negativos no processo de aprendizagem. O professor e pesquisador indica que há muitas paradas na aula para comentários sobre as produções, geralmente globais, e que se perde o potencial de transformar o corpo docente num formador cultural. Diante disto, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pretende implantar detectores de audiência nos aparelhos dos professores que aderirem ao programa, dando um bônus para os docentes que recusarem as novelas e seguirem programas educativos. Os valores da bonificação estão sendo discutidos por um grupo de trabalho criado para projetos na área.

O Estado de São Paulo - 03/11/2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aula Cronometrada

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima "Aula Cronometrada". É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS  razões que  geram este panorama desalentador.(VEJA)
 
            Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas  para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que "os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital" entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.
Que alunos são esses "repletos de estímulos" que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que  pais de famílias oriundas da pobreza  trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos  em suas atividades escolares, e pior, em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que, infelizmente, são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.
Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.
Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje "repletos de estímulos".
Estímulos de quê?  De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior, envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.
Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.    
Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos,  há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que, se estudássemos, teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje, os jovens constatam
que, se venderem drogas, vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos,  de ir aos piqueniques, subir em árvores?
E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas "chatas" só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência.
Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.
Hoje, professores "incapazes" dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução),  levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.
E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores "incapazes",  elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração.
Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40h semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que, embora apresente atestado médico, tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário. 
  Há de se pensar, então, que  são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de "cair fora".Todos devem ter vocação para Irmã Dulce, porque por mais que  esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de "vaca","puta", "gordos ", "velhos", entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.
Temos notícias, dia-a-dia,  até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares. 
Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.
E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos. 
Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é  porque há disciplina.
E é isso que precisamos e não de cronômetros.  Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se. 
Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade.
Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade!  E, precisamos, também, urgentemente, de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo
Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões  (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!  Passou da hora de todos abrirem os olhos  e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores  até agora  não responderam a todas as acusações de serem despreparados e  "incapazes" de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.
Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.