sexta-feira, 10 de setembro de 2010

THE DARK AGE

Na ânsia de obter lucros, de corresponder às expectativas de seus patrocinadores, a mídia acostumou-se a criar ídolos todos os dias, a reverenciar o banal, a tornar valioso o insignificante. Enfim, convenceu a sociedade que não é preciso pensar basta sentir. Põe-se de lado a razão para elevar o instinto e torná-lo hábito.
Quem perde com isso é a própria sociedade que ao enaltecer medíocres se desvaloriza. A partir de meados dos anos 90 intensificou-se a penetração e propagação de uma subcultura, desprovida de qualquer conteúdo. Ela está presente na música, através do pagode e do sertanejo romântico, na televisão através de idiotices como o Big Brother Brasil. E só não atingiu ainda a literatura, porque este não é um país de leitores, e o cinema, porque a produção de um filme é muito mais dispendiosa do que um Cd.  
E sob esse aspecto, a elite continua sendo a guardiã dos valores artísticos e culturais, cumprindo assim um de seus mais importantes papéis.
Somos resultado de uma miscigenação racial que nos impede de termos identidade própria. Impede-nos de termos um projeto de nação. Um rumo. Somos uma nau à deriva que, quando navega em águas calmas se deixa levar ao sabor do evento. Quando temos algo de valor, buscamos a sombra para o descanso. Não olhamos adiante. Não pensamos em como multiplicar o que temos. Acomodamos-nos.
Essa geração não aprendeu a pensar. E os poucos que aprenderam não foram no banco escolar que obtiveram este aprendizado. Foi por iniciativa própria.
Esta geração de adolescentes, em sua maioria, exceto aqueles que podem freqüentar uma escola particular, sequer é alfabetizada. E como poderá então aprender a pensar?
Pessoas que não pensam não interferem na sociedade. E quando o fazem é de maneira negativa.
Uma forma de estimular as pessoas a pensarem é proporcionar-lhes o contato diário com a cultura, através de suas inúmeras formas de expressão como a música, a literatura, o cinema, o teatro.
O Brasil, essencialmente um país musical, está doente sob esse aspecto. Há talentos que se perdem diariamente por falta de oportunidade.(Olha o Henrique ai). Não encontram espaço para exercitar e desenvolver o seu trabalho. E se essas oportunidades não encontram desestimulam-se.
A maneira mais eficiente de se criar necessidades é desacreditar as opções, é destruí-las. Isto se deu no Brasil com a música. Não há mais diversidade à disposição do grande público. Qual espaço ocupa atualmente o rock, o samba, a MPB, o choro? Nenhum.
Os escritores, ficcionistas ou não, os pensadores, enfim, poderiam despertar o cidadão. Poderiam. Se o cidadão tivesse o hábito da leitura. Assim, vozes dissonantes do discurso predominante se perdem aqui e acolá. Nada mais são que ilhas paradisíacas num oceano de merda.
Por isso muitos se surpreendem a pensar: Para que produzir cultura e arte? E para quem? Se ao entrarmos neste jogo as cartas já estão marcadas e os vencedores definidos.
O Brasil é um gigante tomado pelo câncer da ignorância gerado pelo desinteresse.
Quê finalidade nós temos em um país como esse?
Por que continuarmos atirando pérolas aos porcos? 
E, até quando?   

Cadeiras vazias

O MEC (Ministério da Educação) informa que 1.479.318 vagas não foram preenchidas nos cursos de nível superior no Brasil nos dois últimos anos. 
A justificativa apresentada é que durante o processo para autorização de um novo curso as instituições educacionais solicitam mais vaga do que desejam oferecer.
Entretanto, basta verificar a situação do ensino público nos níveis fundamental e médio nos últimos 20 anos para constatar a necessidade de uma orientação vocacional que não existe. Porque se existisse, o aluno poderia escolher as matérias que deseja estudar e assim, aprofundaria seus conhecimentos nessas matérias, ganharia tempo para se dedicar a outras tarefas e custaria menos ao Estado e aos seus pais.
Detectar a vocação do aluno deveria ser a primeira preocupação das instituições educacionais.
Para tanto, se faz necessário uma profunda revisão na grade curricular tanto no ensino fundamental como no médio.
Agora, esperar por parte do MEC essas modificações que significam avanços é perda de tempo. O MEC faz o que o governo manda. E governo nenhum, ainda mais se for brasileiro, pretende um povo culto, esclarecido, senhor de si, que seja capaz pensar, agir e decidir com a razão. Um povo assim representaria ameaça ao Poder porque tomaria e seria um novo Poder.
Portanto, essa sonhada revolução educacional deve partir das instituições públicas e privadas. Algo que nos parece no momento impossível. Porque a primeira está sucateada, desmotivada, quase inexiste de fato embora exista de direito. E a segunda, em sua maioria, encara a educação apenas como um comércio.
A educação tem que ter os pés na realidade e o olhar para o futuro. E esquecer um pouco o passado. Que, se necessário, pode ser consultado nos inúmeros meios de informação de que hoje se dispõe.

Laura Botelho: Estamos acordando ou voltando a sonhar?

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Paulo Delgado - Web Site Oficial

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