quarta-feira, 12 de novembro de 2008

violencia nas escolas


Aluno espanca professor
Adolescente de 17 anos é autuado por lesão corporal depois de agredir brutalmente profissional de ensino no pátio da Escola Estadual Pedro Américo, no Bairro Santa Tereza em Belohorizonte (Pedro Ferreira)

Fotos: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press

Na delegacia, Alexandre de Freitas (D) conta como foi surrado pelo estudante J.A.C. (ao fundo)
O ciúme doentio de um aluno de 17 anos pela namorada, da mesma idade, levou o adolescente a espancar o seu professor de física, na manhã de ontem, na Escola Estadual Pedro Américo, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte. O casal queria sair da escola a qualquer custo para namorar na rua e não teve permissão. O professor teria achado graça da situação e o aluno acreditou que ele estivesse sorrindo para a garota, agredindo-o mais tarde no pátio, com socos e pontapés. “Se eu reagisse, estaria completamente errado, porque ele é um menor e eu sou um professor”, disse Alexandre Lopes de Freitas, de 24 anos.

A insegurança dele é compartilhada por milhares de profissionais do ensino, em todo o país, segundo levantamento do Ministério da Educação. Questionário sobre violência em escolas aplicado a professores da rede pública, durante o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), constatou que 18,8% dos profissionais em atuação na Região Sudeste já foram agredidos.

Por volta das 8h20 de ontem, o professor Alexandre conta que estava em outra sala de aula conversando com uma colega e a supervisora. O aluno acusado, J.A.C., que cursa o 2º ano do ensino médio, chegou com a namorada pedindo para serem liberados. “Eu ri da situação e o aluno achou que eu estivesse rindo para a namorada dele”, disse o professor.

Mais tarde, quando conversava com a diretora no pátio, o professor conta que foi atacado pelo adolescente, que tem um porte físico avantajado. “Ele já chegou me jogando contra a parede e eu sem saber o motivo. Ele dizia que eu estava dando bola para a namorada dele”, disse o professor, que disse não ter reagido e apanhou por cerca de cinco minutos, até ser salvo pelo vigilante. Alexandre foi designado para o cargo há uma semana, pois a escola em que o menor estuda não tinha ninguém para ministrar a disciplina. Ele sofreu lesões no braço direito e escoriações na barriga.

DESENCANTO

Assustado com a violência do aluno, o professor disse que pretende deixar a escola ou até mesmo abandonar a profissão, pois está desencantado. “Há uma total falta de respeito com os professores. Os alunos ficam com fone de ouvido em sala de aula, ouvindo música, conversando o tempo todo e falando palavrões com as meninas. Não adianta dizer que eles serão os principais prejudicados. Se eu reclamasse, eu já teria sido agredido há mais tempo”, lamentou Alexandre, enxugando as lágrimas. “Em toda a minha vida de estudante eu nunca desrespeitei um professor. Não tenho explicações para a fúria desse aluno”, disse.

O caso foi parar na Delegacia Especializada de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad). A mãe do estudante, a dona-de-casa Míriam Assis, de 39, pediu perdão ao professor, dizendo ser contra qualquer tipo de violência. “Ele tem toda razão em estar desanimado com a profissão. Estou muito triste pela atitude do meu filho, mas eu já imaginava que isso fosse acontecer desde o início desse namoro conturbado. Ele tem um ciúme doentio da namorada e não deixa nem a moça respirar”, lamentou a mãe.

Em casa, segundo ela, o adolescente é calmo e gosta de música. “Mas, quando se trata de namoro, ele não saber dosar nada. Meu medo é que isso acabe em tragédia”, acrescentou a mãe, lembrando que o filho e a namorada saíram de escolas diferentes para estudar juntos.

O professor aceitou o pedido de perdão da dona-de-casa, mas lamentou a situação. “Esse garoto vai acabar trazendo mais desgosto para essa mãe. Ela não precisa me pedir desculpa, pois as marcas no meu corpo vão passar, mas o que ele ainda pode fazer com ela é motivo de pena”, disse Alexandre. O aluno, que presenciou a mãe pedindo perdão e ouviu a resposta do professor, desistiu de comentar a sua atitude.

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