segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

BURNOUT


Professores
(Déa Januzzi, Sandra Kiefer e Telma Gomes)
Suzana, Tânia, Mara e Marcos são professores da rede pública de ensino e estão sofrendo de uma dor profunda, praticamente incurável: a Síndrome de Burnout atinge 25% da categoria ou um a cada quatro professores. É o que revela a pesquisa realizada pelo Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), apresentada, no ano passado, no Congresso de Pedagogia de Cuba, com repercussões internacionais. Descoberta no Brasil, a Síndrome de Burnout é recente e está transformando a vida dos professores. Apáticos, desiludidos, frustrados profissionalmente, os professores estão doentes. Burnout não é estresse, depressão ou angústia. Em português quer dizer perder o fogo, a energia . É uma síndrome que faz o trabalhador perder o sentido de sua relação com o trabalho, de forma que nada mais importa e qualquer esforço parece inútil , explicam os pesquisadores.
No dia-a-dia , os professores enfrentam o dilema de poder oferecer o melhor ao seu aluno, mas muitas vezes se deparam com tantas dificuldades que desenvolvem a Síndrome de Burnout, uma espécie de ausência que pode levar à falência da Educação. Eles se transformam em robôs. Entram para a sala de aula, viram para o quadro e não se importam com o que está acontecendo à sua volta , diz Marcos Maiolino, assessor da CNTE. A postura de distanciamento, segundo ele, é grave, pois a atividade educacional pressupõe envolvimento. Se o professor está ausente, alguma coisa anda errada com a educação .
Outros trabalhadores podem apresentar estresse, mas quando voltam para casa esquecem o problema. Já o professor não só leva os exercícios para casa, mas também os problemas, as dificuldades de cada aluno, pensa naquele que se envolve com drogas, que está se iniciando no mundo do crime ou no outro que não aprende, pois o pai abandonou a casa. Tem o aluno que não pode comprar material escolar ou que sofre a violência doméstica, abuso sexual. Tem o outro que briga na rua. O professor quer mudar a vida do seu aluno, está comprometido com o seu futuro, com a esperança de uma vida melhor. Muitas vezes, ele leva o aluno para casa .
O magistério é encarado pelo professor como uma missão, que pode levar à Síndrome de Burnout, se não for cumprida: Eu me sinto impotente ao lidar com os alunos, pois é algo semelhante a remar contra a maré. Às vezes é possível observar algum esforço da parte deles, mas não há retorno, pois as deficiências de aprendizagem e as barreiras são muito grandes. No total de alunos, metade é totalmente apática. Os outros 50% até se esforçam, mas não possuem base, não absorvem. Não vejo resultado em meu trabalho, sendo que os alunos da noite conseguem ser ainda piores. Estou sendo muito sincera, não consigo encontrar nenhum tipo de satisfação no magistério. Se existir ainda alguma coisa é desprezível. Trabalho apenas por obrigação. Ao sair para o trabalho, o que me move é apenas o sentimento de obrigação. É como o gado que sai para pastar e depois volta para casa , conta uma vítima de Burnout.
A professora *Suzana está com medo de escrever as lições no quadro, treme só de pensar em virar de costas para a turma, pois sabe que um de seus alunos tem um revólver escondido dentro da mochila. Na escola da Nova Granada, região Oeste da cidade, a professora é ameaçada de morte todo dia, mas nem pensa em desistir pois gosta demais da turma. Conhece o nome e o sobrenome de cada um. E, nos últimos dias, anda muito feliz, pois conquistou a confiança do aluno mais temido da escola. Agora, ele entrega à professora o cigarro de maconha antes de entrar na sala de aula. Para garantir as conquistas, a professora dá o telefone de sua casa. Um dia, porém, alguém liga para dar a pior notícia que ele poderia receber: o aluno acabara de ser morto por traficantes. O mundo vem abaixo. Dois meses de licença e a dor não vai embora, até que ela pede transferência da escola, porque tem medo de que não consiga mais manter a mesma qualidade do ensino.

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