sábado, 13 de dezembro de 2008

Diretor executado por barrar tráfico



Adriana Bernardes - Correio Braziliense

Brasília – “Particularmente vivi e tenho vivido um drama muito grande. Além de Brasília ter perdido um educador, eu perdi um companheiro, uma pessoa extremamente amada, um pai de família, uma pessoa muito querida. Essa lacuna ninguém, absolutamente ninguém, vai preencher."

O lamento é da servidora pública federal Rita de Cássia Pereira, de 43 anos, mãe de Otávio Augusto, de 8, e João Vitor, de 12 e, que, da noite para o dia, se viu obrigada a viver o luto pela perda do marido. Ele, Carlos Ramos Mota, de 44, pai também de Daniela, de 24, era diretor respeitado no Centro de Ensino Fundamental Lago Oeste, a 28 quilômetros de Brasília. Foi morto por um aluno, dois ex-alunos da instituição e um traficante, por não permitir que atividade criminosa adentrasse o colégio.

Na madrugada de 20 de junho, os assassinos foram até a casa do diretor. Atraíram-no para o lado de fora e o executaram a tiros. A violência nas escolas públicas do Distrito Federal parece não ter limites. Vinte e um dias antes, o professor de história Valério Mariano, de 41, escapou por pouco de ser morto a socos e pontapés por um ex-aluno da escola onde leciona, no Centro de Ensino Fundamental 4, em Ceilândia, a 26 quilômetros da capital da República. Ele tentou impedir que o jovem invadisse o colégio.

A gravidade dos ferimentos o afastou da sala de aula até o fim do mês, quando passará por nova perícia. Mas as marcas da violência impregnaram de tal maneira a sua alma que ele não pretende voltar a ensinar. "O sentimento é de descrença absoluta. O profissional de educação está desacreditado. O nosso público, em sua grande maioria, simplesmente não quer estudar. Não tenho a menor vontade de voltar a lecionar", contou em tom de profunda melancolia.

As agressões relatadas são o ápice de conflitos quase diários. Desentendimentos entre mestres e alunos nos colégios públicos do DF se transformaram em 70 ocorrências policiais no período de 2006 a 4 de junho deste ano. Casos de ameaça são os mais comuns: houve 36. Mas educadores e estudantes também partem para agressões físicas. Brigas e lesões corporais alcançam 13 registros.

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